O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou nesta quarta-feira, 24, que qualquer tentativa de Israel de anexar a Cisjordânia seria uma “linha vermelha para os Estados Unidos“. A declaração à emissora francesa ocorre um dia após o encontro entre Macron e o seu homólogo dos EUA, Donald Trump, às margens da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York.
Na entrevista, o líder francês afirmou que a tomada do território “seria o fim dos Acordos de Abraão, que foram uma das histórias de sucesso do primeiro governo Trump”, acrescentando: “Os Emirados Árabes Unidos foram muito claros sobre isso”. Firmados em 2020, os tratados citados por Macron normalizaram as relações entre Israel e um grupo de Estados árabes, incluindo os Emirados Árabes Unidos. Ele também disse que “em termos muito claros, os europeus e os americanos estão na mesma página” sobre o projeto de anexação da Cisjordânia.
O alerta acontece semanas após o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, aprovar o polêmico plano de um território chamado E1, entre Jerusalém e o assentamento de Maale Adumim. A iniciativa estava congelada desde 2012 e 2020 devido a objeções internacionais. Agora, será retomado a partir da construção de milhares de unidades habitacionais, estradas e modernização da infraestrutura. A empreitada é estimada em cerca de US$ 1 bilhão (mais de R$ 5 bilhões).
A medida pode tornar inviável a criação do Estado da Palestina e dividirá a Cisjordânia, isolando Jerusalém Oriental. O plano recebeu apoio de membros ultranacionalistas da coalizão de Netanyahu, incluindo o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, de extrema direita, que afirmou que a iniciativa “enterrará a ideia de um Estado palestino”.
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Reconhecimento da Palestina
Em meio à escalada das tensões, a França seguiu os passos nesta segunda-feira, 22, do Reino Unido, Canadá, Austrália e Portugal no reconhecimento do Estado da Palestina. Os quatro países anunciaram neste domingo, 21, às vésperas da reunião em Nova York, a validação do Estado palestino como um caminho para a solução de dois Estados. Mais de 140 países dos 193 países-membros da ONU, incluindo o Brasil, reconhecem a Palestina. A medida é condenada por Israel e pelos EUA.
Sobre a recente onda de reconhecimento da Palestina, ele alertou que “se você não der a um grupo de pessoas uma saída política para sua própria existência legítima quando a comunidade internacional reconheceu isso há 78 anos, você os levará a uma completa perda de esperança — ou, pior ainda, à violência”.
Macron apresentou a Trump um plano de três páginas sobre o futuro da Palestina, baseado na Declaração de Nova York, um documento endossado por mais de 143 países. O presidente francês indicou que o objetivo final do documento é garantir um cessar-fogo e libertar os reféns que são mantidos em Gaza, além de excluir o Hamas do governo de Gaza e da Cisjordânia. Acredita-se que apenas 20 dos 57 sequestrados ainda estejam vivos — no final de agosto, Israel conseguiu recuperar um corpo e restos mortais de dois reféns.
Ele contou à France 24 que fez um apelo ao republicano: “Você tem um papel importante a desempenhar e quer ver paz no mundo”. Ele destacou a importância de “convencer os americanos a pressionar Israel”, já que os EUA são “o país com real influência” na guerra em Gaza, iniciada em 7 de outubro de 2023. A proposta também prevê a desmilitarização do grupo radical.
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‘Fracasso’ de Netanyahu
Além disso, Macron criticou indiretamente membros de extrema direita do gabinete de Netanyahu, argumentando: “O objetivo de alguns não é combater o Hamas , mas sim minar a possibilidade de um caminho para a paz. Não há Hamas na Cisjordânia”. Ele disse que a estratégia de guerra total de Netanyahu não foi bem sucedida por ter colocado os reféns em risco e ainda não ter conseguido extinguir os militantes.
“Há tantos combatentes do Hamas quanto antes. A guerra total, do ponto de vista prático, não está funcionando. Esta guerra é um fracasso”, acrescentou o chefe do Eliseu.
O líder da França reiterou que o poder de decisão não deve ser “deixado nas mãos daqueles para quem a libertação de reféns não é uma prioridade” e renovou as críticas ao premiê israelense: “A primeira prioridade de Netanyahu não é a libertação de reféns – caso contrário, ele não teria lançado a mais recente ofensiva na Cidade de Gaza, nem teria atacado os negociadores no Catar”, acusou.