A economia americana cresceu acima do esperado no segundo trimestre, alimentando a percepção de resiliência, mas também levantando dúvidas sobre a sustentabilidade desse fôlego. Segundo o Bureau of Economic Analysis, o Produto Interno Bruto (PIB) avançou a uma taxa anualizada de 3,8%, revisão expressiva frente à queda de 0,5% registrada no trimestre anterior.
A expansão foi impulsionada principalmente pela aceleração dos gastos do consumidor e por uma forte contração nas importações. Este último fator, no entanto, está atrelado as tarifas impostas por Donald Trump, que reduziram o volume de compras do exterior, inflando o resultado do PIB.
A retração das importações foi decisiva para o salto do PIB. Mas ela não decorre de competitividade interna. Após impor um pacote agressivo de tarifas sobre diversos países, Trump reduziu o apetite por insumos e bens estrangeiros.
No primeiro trimestre, empresas anteciparam compras antes que as taxas entrassem em vigor, inflando importações e contribuindo para a queda do PIB. No segundo, o efeito se inverteu: com tarifas em vigor, as compras externas despencaram, “ajudando” o cálculo do produto.
O motor mais sólido do trimestre foi o consumo das famílias. Mesmo em um ambiente de crédito caro e inflação ainda resistente, os americanos aumentaram gastos com serviços e bens duráveis. Esse movimento elevou as chamadas vendas finais para compradores domésticos privados – soma do consumo com o investimento fixo privado – para 2,9%, um ponto percentual acima da estimativa anterior.
Já o investimento seguiu na contramão. Empresas adiaram projetos e reduziram aportes em estruturas e equipamentos. O setor produtivo se mostra reticente, diante da incerteza sobre os rumos da demanda e da política monetária.
O desempenho acima do esperado chega em um momento delicado para o Federal Reserve. Na última reunião, o banco central cortou os juros pela primeira vez desde dezembro de 2024, mesmo reconhecendo riscos inflacionários. A decisão foi motivada por sinais claros de enfraquecimento do mercado de trabalho: a criação de empregos perdeu força e a taxa de desemprego subiu.