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Rejeição da PEC da Blindagem é ‘divisor de águas’ e resultado dos protestos, diz cientista político

Autor do recém-lançado livro “A ascensão do populismo de direita no Brasil” (Appris), o cientista político Gabriel Rezende diz que a rejeição da chamada PEC da Blindagem na CCJ do Senado é resultado da “pressão social e do custo político insustentável” da proposta. A VEJA, ele avalia que parte do Centrão e a extrema-direita saem hoje derrotados, e para os bolsonaristas a consequência pode ser o enfraquecimento da sua capacidade de ditar a agenda pública. Doutor em Ciência Política pela PUC-Rio, Rezende afirma que as manifestações contra a PEC e a anistia fovorecem a unidade de setores progressistas e do centro. 

Gabriel Rezende: bandeira nacional voltou a ser símbolo de soberania e democracia
Gabriel Rezende: bandeira nacional voltou a ser símbolo de soberania e democraciaEditora Appris/Divulgação

A rejeição da PEC da Blindagem no Senado está diretamente ligada aos protestos do último domingo?

Sim. A votação por unanimidade da CCJ do Senado não foi mera coincidência, mas resultado direto da pressão social e do custo político insustentável que se impôs ao avanço da proposta. Deputados que haviam votado a favor chegaram, inclusive, a pedir desculpas publicamente, evidenciando o tamanho do desgaste.

Qual é o recado desse arquivamento?

No plano político, a derrota da PEC reconfigura a agenda e redistribui ganhos e perdas. Os maiores derrotados são parte do Centrão e a extrema-direita, que demonstraram falta de cálculo político ao insistir em uma medida tão impopular. A tentativa de autoproteção expôs a face mais tangível da “velha política”, revelando o vazio moral de um discurso que, em 2018, ascendeu sob o signo do combate à corrupção.

E qual é o tamanho da derrota do bolsonarismo? 

Para o bolsonarismo, o revés é ainda mais significativo: embora seu núcleo duro permaneça fiel, a sociedade em geral não aceita anistia para condenados nem blindagem contra investigações criminais. A inelegibilidade de Jair Bolsonaro, somada a essa derrota parlamentar, possivelmente enfraquece sua capacidade de ditar a agenda pública de forma unívoca.

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O que as manifestações trazem de resultados para a esquerda?

Elas demonstraram a capacidade de a esquerda disputar novamente a agenda pública e de mobilizar em larga escala, algo que não se via desde a campanha eleitoral de 2022. Houve também uma retomada simbólica importante: a bandeira nacional, por anos apropriada pelo bolsonarismo, foi reocupada como emblema de soberania e democracia. Isso em oposição à bandeira americana nas manifestações da direita no 7 de setembro. Em segundo lugar, essas manifestações conseguiram a unidade de setores progressistas e do centro, atraindo cidadãos sem histórico de militância. Nesse processo, a esquerda conseguiu controlar a narrativa.

Quem mais ganha agora?

A rejeição da PEC da Blindagem representa uma vitória da sociedade civil e das instituições sobre uma tentativa de erosão democrática. Foi um divisor de águas que reafirma a vitalidade da sociedade em reagir ao patrimonialismo e expõe a dificuldade estratégica atual da extrema-direita e de parte do Centrão de impor sua agenda. Ao mesmo tempo, para o governo Lula, trata-se de um triunfo político que reforça seu papel como polo aglutinador do campo democrático.

Essa mobilização é comparável com as manifestações do 7 de setembro?

Os protestos da esquerda, que reuniram cerca de 42 mil pessoas em São Paulo e no Rio de Janeiro, foram equivalentes em escala. A diferença é que as manifestações bolsonaristas eram planejadas com meses de antecedência, enquanto a mobilização da esquerda ocorreu em poucos dias, como resposta imediata à votação na Câmara. Essa espontaneidade, somada à indignação generalizada com a tentativa de autoproteção parlamentar, explica sua força e rapidez.

 

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