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Como ‘Hollow Knight: Silksong’ reviveu a discussão sobre dificuldade em games

Quando chegou ao mercado de surpresa, há menos de um mês, o game Hollow Knight: Silksong causou um enorme impacto. Trata-se da continuação de Hollow Knight, o fenômeno indie lançado originalmente em fevereiro de 2017 que conquistou legiões de fãs graças a seu rico universo e uma jogabilidade precisa, que oferecia grandes desafios, mas recompensava os jogadores mais persistentes. Foram sete anos de desenvolvimento de Silksong, que seria lançado apenas como um conteúdo adicional, mas tornou-se um game completo, totalmente novo. E além de surpreender pela vastidão do cenário, pela comovente história e pelo combate desafiador, tem frustrado uma parcela de jogadores por conta do elevado grau de dificuldade.

Para entender o quanto Silksong é importante, é preciso voltar alguns anos no passado. Quando Hollow Knight chegou aos consoles, foi reconhecido como um dos grandes títulos da nova geração de “Metroidvanias”, gênero cujo nome é inspirado nos clássicos Metroid e Castlevania e mescla elementos de ação e plataforma com exploração não-linear, geralmente em 2D, e uma jogabilidade que envolve a conquista de novas habilidades e itens para avançar na história. Vendeu mais de 15 milhões de unidades desde 2017 e se tornou um clássico cult. Silksong é aguardada continuação, produzida de forma silenciosa pela equipe da Team Cherry nos últimos sete anos.

Silksong é ainda um dos maiores fenômenos do mercado de games do ano. Nos três primeiros dias após o lançamento, o título bateu 5 milhões de jogadores. Ao menos 3 milhões vieram da Steam, a plataforma de venda online para computadores. O resto se dividiu entre os consoles, com destaque para o Xbox, já que o jogo entrou no serviço de assinatura da Microsoft e conquistou mais de um milhão de downloads. Desde então, o game continua vendendo bem e já ultrapassou 6 milhões de cópias.

E não é para menos. O jogo é incrível, candidato a Game do Ano que vem recebendo notas altas em resenhas feitas pelos principais veículos do mercado. O cenário é enorme, com áreas diferentes criadas com atenção aos detalhes. Há dezenas de inimigos diferentes, áreas secretas, habilidades e itens para descobrir, uma história interessante e comovente e uma jogabilidade precisa. Mas é um título que exige muito do jogador. 

Para começar, logo no início a personagem Hornet tem apenas 5 pontos (marcados por máscaras) de vida. Muitos inimigos, mesmo nas primeiras áreas do jogo, causam dois danos. Ou seja, é fácil cair em batalha. Há trechos que exigem habilidade e os pontos em que o game é salvo e onde o jogador recomeça após morrer são raros, espalhados em pontos estratégicos do cenário. Para piorar, os chefes – que são muitos – são extremamente complicados. Tudo isso contribuiu para a frustração de alguns jogadores, que acreditam que desafios mais fáceis teriam um apelo maior para grupos diferentes de pessoas.

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A dificuldade é um tema polêmico no mundo dos games, especialmente depois que títulos como Demon Souls e Elden Ring foram lançados com um grau elevado de desafio e sem a possibilidade de escolher entre níveis mais fáceis ou difíceis. Mas há motivos por trás dessa decisão. Como diz Mark Brown, especialista em design de games, em seu canal Game Maker’s Toolkit, há três razões principais para tornar um jogo – ou uma fase dele – mais desafiadora. A primeira é fazer com que a satisfação ao superar um obstáculo seja maior. Enfrentar um chefe fácil o torna pouco memorável, enquanto inimigos fabulosos tendem a ser mais lembrados. Hidetaka Miyazaki, criador de Demon Souls, diz que quer que os jogadores sintam a alegria de superar obstáculos. 

Team Cherry
The Last Judge, um dos chefes mais desafiadores do gameTeam Cherry/Divulgação

O segundo motivo é conectar a jogabilidade com o enredo e o universo digital criado pelos desenvolvedores. E isso faz sentido no cenário desolador de Silksong. O mundo habitado por Hornet é repleto de perigos e muitos coadjuvantes encontrados ao longo da jornada acabam ficando pelo caminho, sem nunca alcançar seu destino.

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Por fim, ainda segundo Brown, a decisão de tornar o game desafiador é uma forma dos desenvolvedores de provocar o jogador a tomar decisões diferentes e não ficar “viciado” em uma única forma de prosseguir. Em Silksong, é preciso entender cada trecho do terreno, cada padrão de golpe dos chefes, para conseguir avançar. Mesmo morrendo centenas – talvez milhares – de vezes, o game consegue mostrar que a cada nova tentativa o jogador ganhou experiência e ficou um pouco melhor. 

Entender tudo isso, no entanto, não torna o jogo mais fácil. Silksong é brutal, mas é recompensador na riqueza de detalhes, nos ajustes precisos da jogabilidade e na satisfação que oferece cada vez que um chefe é superado. O game é uma obra-prima, daquelas que serão mencionadas por anos. Mesmo para um jogador casual, menos afeito a desafios, ele merece ser conhecido. E custa apenas R$ 70, uma verdadeira pechincha no mercado atual, em que lançamentos passam dos R$ 400.

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