A Polícia Civil do Rio cumpre nesta quarta-feira, 24, operação contra uma quadrilha que se utilizava da religiosidade de fiéis para aplicar golpes pelo telefone. Por mensagens e áudios gravados, criminosos se passavam por um pastor e cobravam por orações, além de promessas de curas e milagres, por valores que chegavam até a 1,5 mil reais. Em dois anos, o grupo movimentou cerca de 3 milhões de reais.
Para aplicar os golpes, a quadrilha utilizava uma estrutura bem organizada. Os agentes cumpriram mandados de busca e apreensão em uma central de telemarketing em Niterói, cidade da Região Metropolitana fluminense, onde atuavam dezenas de atendentes. Os profissionais eram contratados por meio de anúncios em plataforma online de vendas e selecionados para o serviço, mesmo sem qualquer vínculo religioso.
No treinamento para o golpe, eram orientados a se passarem por um líder religioso de uma igreja de São Gonçalo durante atendimentos via WhatsApp. Para isso, utilizavam áudios previamente gravados. As promessas de curas e milagres vinham acompanhadas de preços, que variavam entre 20 reais e 1,5 mil reais, por meio de transferências via pix.
Os valores arrecadados eram repassados para uma rede de contas bancárias registradas em nome de terceiros, dificultando o rastreamento das movimentações financeiras. Para os atendentes, havia também um sistema de comissões, em que eram remunerados de acordo com a quantidade de “orações vendidas”. Aqueles que não atingiam o valor mínimo estipulado eram dispensados.
A operação, batizada de “Blasfêmia” e conduzida por agentes da 76ª DP (Niterói) junto ao Ministério Público do Rio, parte de inquérito que apurou os crimes de estelionato, charlatanismo, curandeirismo, associação criminosa, falsa identidade, crime contra a economia popular, corrupção de menores e lavagem de dinheiro. O pastor e outros 22 integrantes do grupo foram denunciados. Além disso, no religioso foi determinado o uso de tornozeleira eletrônica.
A investigação teve início em fevereiro deste ano, quando a polícia identificou a existência de um call center onde foram flagradas 42 pessoas realizando atendimentos virtuais. Na ocasião, 52 telefones celulares, 6 notebooks e 149 cartões pré-pagos de telefonia móvel foram apreendidos. A análise desse material confirmou a atuação coordenada do grupo e permitiu identificar milhares de vítimas em todo o território nacional.