A imprensa internacional repercutiu o fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Assembleia Nacional das Nações Unidas nesta terça-feira, 23. O Brasil foi o primeiro país a discursar, uma tradição de longa data que remonta aos primeiros anos da ONU, e foi seguido pelos Estados Unidos, país sede do encontro de alto nível. A reunião ocorre no pior momento das relações entre EUA e Brasil — uma crescente deterioração tornada nítida nos comentários do petista aos 193 países da organização.
O jornal britânico The Guardian disse que Lula “lançou uma defesa apaixonada da democracia de seu país, alegando que a recente condenação de seu antecessor de extrema direita, Jair Bolsonaro , mostrou ao mundo como ‘aspirantes a autocratas’ podem ser subjugados”. A reportagem também informou que “em uma referência inconfundível, mas indireta, ao governo Trump, Lula criticou as tentativas estrangeiras de interferir no recente julgamento de Bolsonaro com uma campanha de pressão de tarifas e ‘sanções arbitrárias’.”

Já o jornal americano The New York Times publicou uma matéria com o título “Trump adota tom mais suave em relação ao Brasil, após discurso contundente de Lula”. O texto apontou que o “presidente Trump pareceu oferecer um ramo de oliveira ao Brasil na terça-feira, sinalizando que planeja se encontrar com o presidente do país, Luiz Inácio Lula da Silva, na semana que vem, pela primeira vez desde que uma crise diplomática eclodiu entre as duas nações mais populosas do Hemisfério Ocidental”.
“Seus comentários (os de Trump) seguiram um discurso de abertura mordaz do Sr. Lula na Assembleia, que pareceu mirar indiretamente o líder americano e suas exigências para suspender o processo criminal do ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado de Trump, no Brasil. Bolsonaro foi recentemente condenado por supervisionar um plano de golpe após perder as eleições presidenciais de 2022, e foi sentenciado a 27 anos de prisão”, relembrou o NYT.
Com título “Lula inicia Assembleia Geral da ONU com provocação a Trump”, a agência de notícias americana Bloomberg destacou que “a reunião deste ano ocorreu em um momento especialmente tenso, com as duas maiores nações das Américas em conflito sobre o destino do ex-presidente Jair Bolsonaro — um aliado de Trump condenado por tentar um golpe contra Lula” e pintou o clima de tensão: “Embora o discurso de Lula tenha ecoado os comentários que ele vem fazendo desde que Trump disparou sua primeira salva comercial para defender Bolsonaro, os holofotes globais do pódio da ONU podem desencadear uma nova escalada entre Brasília e Washington”.

A agência de notícias Reuters reforçou que “os comentários de Lula ecoaram suas críticas constantes ao presidente dos EUA, Donald Trump, por impor tarifas, restrições de visto e sanções financeiras em resposta ao julgamento e condenação do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro por planejar um golpe após perder a eleição de 2022”. A matéria também pontuou que o líder brasileiro “defendeu a investigação e o devido processo legal que resultaram na condenação de Bolsonaro”.
O jornal de notícias argentino Infobae afirmou que Lula “alertou a Assembleia Geral das Nações Unidas que a autoridade deste fórum ‘está ameaçada’ diante da crescente pressão de ‘forças antidemocráticas’ representadas por ‘ataques à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais’” e “citou como exemplo dessas ‘forças antidemocráticas’ aqueles que tentaram reverter quatro décadas de democracia no Brasil, claramente aludindo ao ex-presidente Jair Bolsonaro, a quem ele não mencionou diretamente”.

A emissora alemã Deutsche Welle traçou um comparativo entre mensagens de Lula na Assembleia Geral: “Enquanto os discursos anteriores de Lula na ONU, em 2023 e 2024, focaram na mudança de rumo da diplomacia brasileira, que voltou a favorecer multilateralismo após os quatro anos de isolacionismo do governo Jair Bolsonaro, a fala do presidente em 2025 teve como destaque recados aos EUA e Israel”.
“No momento, as relações entre Israel e Brasil também têm sido marcadas por tensão. Israel declarou Lula persona non grata e rebaixou as relações diplomáticas com o Brasil, após intensas críticas do governo brasileiro sobre Gaza. O Brasil também se uniu a África do Sul na ação que acusa Israel de genocídio nas ações militares no território palestino”, explicou a DW.
A agência de notícias turca Anadolu Agency definiu o discurso de Lula como “contundente” por afirmar “que um ‘genocídio’ estava ocorrendo em Gaza” e por salienta “que dezenas de milhares de crianças palestinas estão soterradas sob os escombros em Gaza, um ato que, segundo ele, também está enterrando o ‘direito internacional’”.