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O mito do detox vacinal: por que não faz sentido tentar “limpar” o corpo de vacinas

Mais uma vez, o chamado “detox vacinal” voltou a circular pela internet. A promessa, geralmente empacotada em protocolos com carvão ativado e substâncias “homeopáticas”, sugere que seria possível “limpar o corpo” de resíduos de vacinas e metais pesados. A prática, popularizada durante a pandemia de covid-19, nunca teve comprovação científica e hoje é classificada como pseudociência.

No geral, quem promove a ideia afirma que o corpo precisaria passar por um processo de desintoxicação para eliminar supostas toxinas introduzidas pelas imunizantes. Em 2023 e 2024, além do carvão ativado, havia até quem vendesse “detox vacinal” à base de dióxido de cloro — sim, a mesma substância usada em produtos de limpeza como alvejantes, proibida pela Anvisa para uso medicinal por ser corrosiva.

Na última segunda-feira, 22, o Ministério da Saúde foi às redes sociais para reforçar o alerta. “O chamado ‘detox vacinal’ não tem qualquer base científica e pode ser perigoso, além de enfraquecer a confiança nas vacinas, que têm eficácia comprovada. No Brasil, todos os imunizantes têm aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e passam por controles rigorosos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS)”.

O mito do carvão ativado

Parte das receitas de “detox” envolve o carvão ativado, substância de fato usada na medicina, mas em situações muito específicas. Nos hospitais, ele é indicado em emergências de intoxicação aguda por via oral, quando ajuda a reduzir a absorção de substâncias tóxicas no trato gastrointestinal. Fora desse contexto, não há função. “Vacinas não são produtos tóxicos. Logo, não há sequer fundamentação teórica para esse tipo de uso”, reforça a pasta.

Reações normais x efeitos colaterais graves

Um dos argumentos explorados pelos defensores do “detox” é a existência de reações às vacinas. Elas existem, mas, na grande maioria dos casos, são leves, passageiras e autolimitadas. Entre os sintomas mais comuns estão febre, dor no braço, cansaço, calafrios, dores musculares e dor de cabeça. Em linguagem simples: sinais de que o sistema imunológico está em treinamento.

Funciona assim: em vez de enfrentar diretamente o vírus, o corpo recebe uma espécie de manual de instruções. Nesse processo, surgem os anticorpos e as células de memória, que vão agir rapidamente em caso de infecção real. Algumas pessoas sentem efeitos colaterais, outras não — e isso depende de fatores como idade, genética, uso de medicamentos e histórico de saúde.

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Eventos adversos graves também podem ocorrer, mas são raros ou muito raros. Para ter ideia, durante a vacinação contra a covid-19 no Brasil, os eventos graves registrados foram da ordem de cerca de um caso a cada 100 mil doses aplicadas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os sintomas mais comuns desaparecem em poucos dias e podem ser manejados com hidratação, repouso e, em alguns casos, medicamentos simples, vendidos sem prescrição.

Sinais de alerta incluem dificuldade para respirar, inchaço no rosto ou na garganta ou febre alta persistente. Nesses casos, pode ser interessante buscar orientação médica.

Vacinas como escudo contra o coração doente

Se há um “efeito colateral” das vacinas, ele é positivo — e vai além da proteção contra vírus e bactérias. Um consenso recém-apresentado no congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia, que reuniu mais de 33 mil especialistas em Madri, classificou os imunizantes como o quarto pilar na prevenção de doenças cardiovasculares, ao lado do controle da hipertensão, do colesterol e do diabetes.

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Dezenas de estudos apontam que manter a carteira de vacinação em dia reduz o risco de infartos e AVCs, principais causas de morte no mundo, responsáveis por quase 20 milhões de óbitos anuais. No caso da covid-19, dados de 800 mil cidadãos mostraram que a vacina não só protege contra o vírus como também reduziu a incidência de trombose, sangramento cerebral e infarto. O mecanismo por trás disso é a redução da inflamação sistêmica: ao prevenir infecções, as vacinas ajudam o corpo a evitar processos inflamatórios que podem desencadear problemas cardíacos.

Notícias falsas chegaram a associar os imunizantes a casos de miocardite, mas a literatura científica mostra que a inflamação do músculo cardíaco é muito mais frequente em pessoas infectadas pelo coronavírus do que entre as vacinadas. Ou seja, os benefícios pesam muito mais que os riscos.

O peso da desinformação

O “detox vacinal” costuma ganhar espaço justamente entre pais preocupados com os filhos — e não é difícil entender o motivo. Quando o assunto é saúde das crianças, toda promessa de proteção extra parece tentadora. Mas é aí que mora o risco: protocolos sem qualquer evidência científica, vendidos como soluções milagrosas, não só pesam no bolso como podem afastar famílias daquilo que realmente protege.

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O Ministério da Saúde alerta: é preciso desconfiar de conteúdos sem fonte confiável e sempre buscar informações em canais oficiais, como os sites do próprio Ministério da Saúde, da OMS ou da Anvisa, além de conversar com profissionais de saúde antes de seguir qualquer protocolo ou ideia que pareça inovadora e seja promovida nas redes sociais. “A disseminação de conteúdos falsos pode colocar vidas em risco ao afastar pessoas da vacinação, que salva milhões de vidas todos os anos. Anota aí: vacinas são seguras, eficazes e não precisam de detox”, escreveu a pasta da saúde.

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