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Como a tecnologia transforma a agricultura e a pecuária

Em tempos de governo Donald Trump execrando a agenda ambiental, a maior metrópole dos Estados Unidos se destaca na direção contrária. Até domingo 28, a Climate Week NYC exibirá cerca de 900 eventos simultâneos espalhados por Nova York, agregando organizações públicas e privadas, governos e empresas, ativistas e artistas em torno de um bem comum: o nosso planeta.

O evento teve sua primeira edição em 2009, tornando-se desde então o maior encontro de escala global sobre o tema. Nesta semana, Nova York recebe líderes políticos, empresários, acadêmicos e ativistas internacionais para painéis e discussões e planos de ação sobre dez temas centrais para o futuro das mudanças climáticas. A edição deste ano oferece 300 eventos a mais que a edição de 2024, denotando a relevância da semana na agenda global.

No Museu de História Natural já não há mais ingressos para as palestras e workshops com especialistas e acadêmicos. Mas há como participar ativamente de ações de bairro, de conferências promovidas por empresas e debates virtuais.

Na manhã desta segunda-feira, Gilberto Tomazoni, presidente da JBS, uma das maiores empresas de alimentos do mundo, participou de um painel sobre “AgTech”, a forma como a tecnologia está transformando a agricultura e a pecuária. Ele ressaltou que o Brasil tem hoje mais que o dobro do rebanho bovino americano, e produz mais carne que os Estados Unidos. E há oportunidade de crescimento. Para isso acontecer, segundo Tomazoni, é preciso financiamento, tecnologia e assistência técnica aos pequenos produtores rurais.

Na visão do presidente da JBS, a agricultura regenerativa é a solução para a agropecuária andar de mãos dadas com o meio ambiente. “Não podemos olhar isoladamente para cada integrante de um sistema integrado: micro-organismos e saúde do solo afetam a produtividade, o nível de controle biológico, usam muito menos defensivos e fertilizantes. A biotecnologia é um elemento crucial neste quesito.”

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O CEO disse ao público que as recentes tarifas impostas ao Brasil pelos Estados Unidos não afetaram fundamentalmente a sua empresa. Ele nota que a JBS construiu uma plataforma diversificada em proteína e também na geografia, atuando em 20 países com 400 fábricas em diversos segmentos. Atualmente, 53% dos negócios da empresa são gerados nos EUA. “Essa diversificação ajuda a empresa a atenuar as diversas oscilações do mercado, sejam por ciclos naturais, questões econômicas, sanitárias ou geopolíticas”, disse.

Por outro lado, Tomazoni avalia que os empreendedores brasileiros desenvolveram tecnologias sustentáveis de qualidade e de alta produtividade — e isso pode alcançar países menos desenvolvidos, que precisam de conhecimento para atacar a pobreza e a insegurança alimentar.

Disseminação de boas práticas

Um outro aspecto importante é o papel irradiador de boas práticas que a empresa pode exercer no setor. Em conversa com a reportagem de VEJA após a sua palestra, Tomazoni falou sobre a criação dos “Escritórios Verdes” pela JBS. Trata-se de uma maneira de ajudar gratuitamente produtores menores a adotarem padrões legais para fornecimento e consequentemente aumentar o número de fazendas adequadas para vender suas carnes à JBS.

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“Não compramos de produtores que geram desmatamento. Quando os bloqueávamos na nossa lista, eles acabavam fornecendo carne para outras empresas, mas continuando com más práticas. Então mesmo depois de bloqueá-los, passamos a dar assessoria para que fiquem em conformidade com a legislação.” A JBS atende 19 mil fazendas nesses moldes.

A importância do trabalho dos Escritórios Verdes vai além de ampliar o número de fornecedores para a empresa. “Trata-se de uma assistência agropecuária que possibilita ao produtor se planejar, atuar legalmente e reacessar o sistema de crédito brasileiro. Focamos em transformar o sistema agroecológico, com vinte escritórios espalhados além de dar atendimento online para alcançar áreas remotas. Também doamos três milhões de brincos para rastrear bovinos no Pará.“

Tomazoni destacou ainda um programa chamado “Fazenda Nota Dez”, para implementar melhores práticas e promover o nível de conhecimento de gestão em unidades produtoras. A JBS contratou a Fundação Getulio Vargas para um levantamento que analisou 103 fazendas. “Os cálculos dos pesquisadores apontaram que 31% delas são carbono positivas. Ou seja, sequestram mais carbono do que emitem.” Ele acrescenta, no entanto, que há barreiras técnicas para a venda deste carbono.

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Em outra frente, o CEO apontou os investimentos da JBS em proteína artificial, uma alternativa para suprir a crescente demanda populacional nas próximas duas ou três décadas. Há alguns anos, o grupo brasileiro comprou uma empresa na Espanha, focada na reprodução celular. A equipe dessa empresa já dominou a tecnologia necessária e agora está em processo de obtenção de certificações nos Estados Unidos.

Além disso, ele lembrou que, em Santa Catarina, a JBS tem um centro de biotecnologia, voltado para o estudo de micro-organismos, bactérias, fungos e algas. A ideia com esse centro é servir de apoio ao aumento da produtividade dos alimentos no campo. “Agregamos ainda a inteligência artificial. É um bom investimento”, concluiu Tomazoni.

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