O presidente da francês, Emmanuel Macron, anunciou nesta segunda-feira, 22, o reconhecimento oficial por parte da França do Estado da Palestina, se somando a Austrália, Canadá, Portugal e Reino Unido, que reconheceram oficialmente a Palestina no domingo.
“Chegou a hora de pôr fim à guerra, aos bombardeios em Gaza, aos massacres e à fuga da população. Chegou a hora pois a emergência está em toda parte. Chegou a hora da paz porque estamos a momentos de não conseguir mais compreendê-la”, disse Macron em discurso durante cúpula organizada pela França e Arábia Saudita sobre a solução de dois Estados, que defende a criação de um país para os judeus e outro, vizinho, para os palestinos, como saída para o conflito árabe-israelense no Oriente Médio.
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Durante a fala, o presidente francês afirmou que “reconhecer os direitos legítimos do povo palestino não retira em nada os direitos do povo israelense, que a França apoia desde o primeiro dia”.
A medida faz parte de uma iniciativa coordenada para promover a paz em Gaza e reviver a esperança de uma solução de dois Estados.
Embora a cúpula e o reconhecimento possa elevar o moral dos palestinos e a pressão sobre Tel Aviv, não se espera que traga mudanças empíricas. A coalizão de extrema direita que governa Israel declarou ser inconcebível um Estado Palestino, e prossegue de maneira implacável a guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza — um dos territórios que comporia o país.
A solução de dois Estados foi a base das negociações de paz inauguradas pelos Acordos de Oslo de 1993, e então apoiadas pelos Estados Unidos. O processo, porém, sofreu forte resistência de ambos os lados e praticamente fracassou.
A cúpula, que antecede a Assembleia Geral das Nações Unidas desta semana, ocorre após Israel lançar uma prometida invasão terrestre à Cidade de Gaza, com poucas perspectivas de um cessar-fogo no conflito que já dura quase dois anos.
Em meio à intensificação da ofensiva israelense em Gaza e à escalada da violência por parte dos colonos israelenses na Cisjordânia, há um crescente senso de urgência para agir com rapidez, antes que a ideia de uma solução de dois Estados desapareça para sempre.
Reconhecimento britânico
No domingo, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, fez questão de esclarecer que a medida não recompensa o Hamas, e que o grupo não terá “qualquer papel na futura governança do povo palestino”. A prioridade, segundo ele, é a libertação de reféns e o fim da violência. A decisão era esperada, já que Starmer havia sinalizado em julho que o reconhecimento ocorreria a menos que Israel concordasse com um cessar-fogo e permitisse a entrada de ajuda humanitária.
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A decisão britânica é significativa devido ao seu papel histórico na região. O Reino Unido foi o país que, em 1917, lançou as bases para a criação do Estado israelense com a Declaração Balfour, que prometia um “lar nacional para o povo judeu”. A segunda parte da declaração, que afirmava que os direitos do povo palestino não seriam prejudicados, foi ignorada por décadas. Para Husam Zomlot, chefe da missão palestina no Reino Unido, o reconhecimento corrige um “erro da era colonial” e acaba com a “negação da nossa existência”.
Apesar da oposição dos EUA e de Israel, o Reino Unido não está isolado. Mais de 140 países já reconheceram a Palestina, e espera-se que outros, como a França, sigam o exemplo. Críticos, no entanto, argumentam que o reconhecimento é uma “ação vazia”, dado que o território palestino está dividido entre a Cisjordânia e Gaza, sem uma capital internacionalmente reconhecida. Além disso, a decisão foi condenada por governos ocidentais que a consideram uma recompensa ao Hamas pelo ataque de 7 de outubro de 2023.
A mudança de tática do Reino Unido reflete uma preocupação crescente de que a solução de dois Estados esteja se tornando “quase impossível”. Essa dificuldade é atribuída à devastação e ao deslocamento em Gaza e à expansão dos assentamentos israelenses na Cisjordânia, uma área reivindicada pelos palestinos.
Segundo analistas, o reconhecimento tem “peso simbólico e histórico” e visa manter viva a discussão sobre a solução de dois Estados. No entanto, sem a adesão dos Estados Unidos, a iniciativa pode ter pouco impacto prático. A decisão deixa clara a crescente preocupação britânica com o futuro do conflito.
Reação
Como possível resposta à onda de reconhecimentos da Palestina, Israel anunciou planos para tomar controle de porções da Cisjordânia, outro território palestino já parcialmente ocupado. Além disso, estuda medidas bilaterais específicas contra Paris, de acordo com a agência de notícias Reuters. O governo americano também alertou sobre possíveis consequências àqueles que tomarem medidas contra Tel Aviv.
A anexação, porém, pode ter um efeito contrário e alienar países importantes como os Emirados Árabes Unidos, uma potência petrolífera e um centro comercial com ampla influência diplomática em todo o Oriente Médio. O mais proeminente dos países árabes a normalizarem os laços com Israel por meio dos Acordos de Abraão, mediados pelos Estados Unidos em 2020, afirmou que tal medida minaria o espírito desse pacto.
“Declaramos publicamente que a anexação é uma linha vermelha para o meu governo, porque atinge o cerne do que os Acordos de Abraão pretendiam alcançar”, disse Lana Nusseibeh, ministra de Estado do Ministério das Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos, em entrevista à emissora britânica BBC.