O presidente da Rússia, Vladimir Putin, ofereceu nesta segunda-feira, 22, ao seu homólogo dos Estados Unidos, Donald Trump, a extensão de um acordo de armas nucleares entre os dois países por um ano. O tratado vigente, que limita o número de ogivas em posse de ambas as nações, expira em 5 de fevereiro. A proposta de Putin surge como um aceno ao republicano, que pressiona o líder russo a encerrar a guerra na Ucrânia, em curso há três anos.
“A Rússia está preparada para continuar aderindo aos limites numéricos centrais do Novo Tratado START por um ano após 5 de fevereiro de 2026”, disse Putin numa reunião do Conselho de Segurança da Rússia. “Posteriormente, com base na análise da situação, tomaremos uma decisão sobre se manteremos essas restrições voluntárias autoimpostas.”
“Acreditamos que essa medida só será viável se os Estados Unidos agirem de maneira semelhante e não tomarem medidas que minem ou violem o equilíbrio existente de capacidades de dissuasão”, acrescentou ele.
Rússia e EUA, juntos, possuem cerca de 90% de todas as armas nucleares. O tamanho de seus respectivos estoques militares (ou seja, ogivas utilizáveis) parece ter permanecido relativamente estável em 2024, mas ambos os países estão implementando extensos programas de modernização, que podem aumentar o tamanho e a diversidade de seus arsenais no futuro.
Um relatório do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI), divulgado em junho, estima que os EUA teriam cerca de 5.328 ogivas, enquanto a Rússia teria 5.580. Em sequência, ficam China (500), França (290), Reino Unido (225), Índia (172), Paquistão (170), Israel (90) e Coreia do Norte (50).
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Novo tratado
O novo Tratado de Redução de Armas Estratégicas (START, na sigla em inglês) tem como foco armas nucleares estratégicas, que são projetadas para atingir edifícios militares, políticos e econômicos do inimigo. O acordo restringe o número de ogivas implantadas em 1.550 por lado. Se Rússia e EUA não renovarem ou substituírem o pacto, os dois podem ignorar o limite e avançar no estoque.
A sinalização de Putin, que fez uma série de ameaças nucleares à Ucrânia desde o início da guerra, mostra uma mudança unilateral russa. Em declarações anteriores, a Rússia afirmou que só manteria o tratado se as relações com os EUA, deterioradas pelo conflito, melhorassem. Ao retornar à Casa Branca, em 20 de janeiro, Trump sacudiu as regras do jogo bélico: ao contrário do seu antecessor, Joe Biden, apostou no fortalecimento dos laços com Moscou enquanto jogou Kiev — e a Europa como consequência — para escanteio.
Apesar da notável aproximação, a relação entre Putin e Trump é marcada por vai-e-vens, de elogios de admiração a xingamentos acalorados — em maio, o presidente americano chegou a chamar o russo de “louco”. A poucos meses do fim do acordo, as discordâncias sobre o fim da guerra a indicam que Rússia e EUA ainda não iniciaram negociações sobre a revisão do tratado. Trump, contudo, já expressou a vontade de delinear um novo tratado de controle de armas nucleares incluindo a China, que rejeita a ideia.