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O lobby corporativo por trás do ataque de Trump ao Pix

Poucos experimentos de inovação financeira em mercados emergentes tiveram o impacto do Pix. Em menos de quatro anos, o sistema de pagamentos instantâneos desenvolvido pelo Banco Central do Brasil transformou a forma como milhões de brasileiros movimentam dinheiro: em transações do dia a dia, de pequenos ambulantes a grandes varejistas, o Pix já substitui transações de cartões de crédito e débito, reduzindo drasticamente o espaço de empresas que, por décadas, extraíram margens confortáveis do setor.

O sucesso, no entanto, tem gerado incômodo. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, decidiu incluir o sistema brasileiro na lista de práticas comerciais supostamente desleais. O ataque não é isolado: ele reflete pressões de gigantes americanos de tecnologia e de redes de pagamento.

O Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês) – órgão da Casa Branca responsável por abrir investigações sobre práticas consideradas desleais – iniciou um inquérito contra o Brasil. A ação foi impulsionada após pressões do Information Technology Industry Council (ITI), uma associação privada que representa empresas como Visa, e Mastercard. As empresas argumentam que o Pix cria “condições desiguais de competição”. A crítica é que o Banco Central brasileiro desempenha o duplo papel de regulador e operador, algo que, na visão americana, distorce o mercado.

O vice-presidente do ITI, Sean Murphy, afirmou que “um campo de atuação desigual” ameaça a competitividade das plataformas privadas, defendendo que o Pix deveria estar sujeito a padrões equivalentes de governança e segurança cibernética das empresas privadas.

Para entender a irritação das empresas, basta olhar os números. O Pix realizou mais de 42 bilhões de transações em 2024, segundo dados do Banco Central, movimentando cerca de R$ 26,4 trilhões.  Cada 1% de participação que migra dos cartões para o Pix representa uma perda de US$ 200 a US$ 400 milhões em taxas para as operadoras internacionais.

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Pior para elas: o sistema não para de expandir funcionalidades. O Pix Parcelado replica a lógica das compras a crédito, mas com custos mais baixos. O Pix Automático, lançado este ano, ameaça capturar o mercado de pagamentos recorrentes, hoje dominado por cartões.

No plano político, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não esconde a disposição de confrontar os gigantes. Em discurso recente, ironizou: “Qual é a preocupação delas? É que, se o Pix dominar o mundo, os cartões de crédito vão desaparecer.”

Para Brasília, defender o Pix tornou-se questão de soberania digital e orgulho nacional. O sistema se consolidou como política pública de inclusão financeira, num país em que metade da população adulta sequer tinha conta bancária há duas décadas. Trump já mostrou disposição de usar tarifas e investigações regulatórias como armas para proteger empresas americanas, inclusive em setores onde sua liderança parece consolidada.

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