O líder norte-coreano, Kim Jong-un, sugeriu que estaria aberto a negociações nucleares com os Estados Unidos, em um momento em que o presidente da Coreia do Sul indicou que chancelaria um potencial acordo entre as duas nações — desde que Seul possa manter suas próprias armas nucleares. A declaração de Kim ocorreu durante um discurso na Assembleia Popular Suprema no domingo 21.
O ditador da Coreia do Norte e o presidente Donald Trump se encontraram três vezes durante o primeiro mandato do americano — Kim disse que tinha “boas lembranças” desses momentos —, mas essas tratativas não conseguiram frear o programa nuclear de Pyongyang. Em 2019, as negociações colapsaram, e desde então o regime norte-coreano estabeleceu laços ainda mais fortes com a Rússia e a China.
Mas Kim deu sinal de que há uma fresta aberta na porta do diálogo ao afirmar em seu discurso que “não há razão para não nos sentarmos à mesa com os Estados Unidos”, informou a agência de notícias estatal KCNA nesta segunda-feira, 22. Ressalvas significativas continuam de pé, acrescentou ele, incluindo a exigência de que Washington abandone “a obsessão absurda de nos desnuclearizar e aceitar a realidade, desejando uma coexistência pacífica genuína”.
Aceno da Coreia do Sul
Em paralelo, o novo presidente da Coreia do Sul, Lee Jae Myung, que vem tentando reduzir as tensões com o vizinho do norte, declarou que aceitaria um acordo entre Trump e Kim que apenas interrompesse o desenvolvimento de novas armas atômicas por Pyongyang, sem destruir todo o seu arsenal existente. Com a demanda, claro, de que Seul também possa manter suas bombas.
Um congelamento do programa norte-coreano como “uma medida de emergência provisória” seria “uma alternativa viável e realista” à desnuclearização completa, disse Lee, eleito em junho após o impeachment de Yoon Suk Yeol, em entrevista à emissora britânica BBC. De acordo com ele, a Coreia do Norte produz de 15 a 20 novas armas nucleares por ano.
“Desde que não desistamos do objetivo de longo prazo da desnuclearização, acredito que há benefícios claros em fazer a Coreia do Norte interromper seu desenvolvimento nuclear e de mísseis”, afirmou Lee. “A questão é: vamos persistir em tentativas infrutíferas em direção ao objetivo final (da desnuclearização), ou vamos estabelecer metas mais realistas e alcançar algumas delas?”
Numa entrevista anterior à agência de notícias Reuters, Lee admitiu que as sanções do Conselho de Segurança das Nações Unidas não conseguiram impedir a Coreia do Norte de expandir e aprimorar seu arsenal de armas de destruição em massa.
“A realidade é que a abordagem anterior de sanções e pressão não resolveu o problema; pelo contrário, o agravou”, afirmou o líder sul-coreano.
Ele vem tentando reduzir as tensões na Península Coreana após uma drástica deterioração dos laços entre os vizinhos sob o governo de Yoon, um conservador que adotou uma linha dura contra o regime de Kim. Em vez disso, defendeu a retomada do diálogo entre as Coreias e uma abordagem mais “realista” e gradual em direção à desnuclearização.
Posição firme
Apesar do tom conciliador, Kim reiterou não ter a intenção de abrir mão de suas armas atômicas – uma medida que, segundo ele, poderia enfraquecer fatalmente seu regime.
No pronunciamento na Assembleia Popular Suprema, ele descreveu o programa nuclear como uma “questão de sobrevivência” em meio a ameaças dos americanos e sul-coreanos, que vêm intensificando a cooperação e realizam exercícios militares conjuntos com regularidade.
“O mundo já sabe muito bem o que os Estados Unidos fazem depois que obrigam um país a abrir mão de suas armas nucleares e se desarmar. Jamais abriremos mão de nossas armas nucleares”, declarou Kim.