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Gilson Rodrigues: ‘Que os jovens não queiram ser MC Daniel ou Neymar’

Nascido em Itambé, na Bahia, e criado na favela de Paraisópolis, em São Paulo, Gilson Rodrigues, 40 anos, transformou sua trajetória pessoal em uma missão para melhorar a vida dos moradores dessas comunidades. Sob sua liderança, o G10 Favelas, uma organização sem fins lucrativos, criou diversos projetos voltados para o desenvolvimento econômico e social das favelas, incluindo iniciativas de empreendedorismo, educação e saúde. No livro O Filho da Mudança (Literare Books International), Gilson compartilha sua jornada onde cresceu enfrentando fome, rejeição e invisibilidade, mas também descobriu propósito e pertencimento. 

Do grêmio estudantil que organizou na escola em Paraisópolis, Gilson se tornou presidente da União dos Moradores de Paraisópolis (UMP), aos 25 anos, e a partir daí construiu sua história. A obra será lançada oficialmente em 16 de setembro, dia em que se celebra o aniversário de Paraisópolis. Em conversa com a coluna GENTE, o ativista assim traça seu percurso, com olhar crítico aos exemplos escolhidos pela juventude carente no país:

“Fui treinado para ser do contra. As pessoas diziam que tinha que ser contra a mídia, ser contra os governos, ser contra a madame do Morumbi. E podia ser contra, porque eu era da favela, preto, sem pai, sem mãe. E seria natural que eu virasse um traficante na favela. E se eu virasse um traficante na favela, as pessoas diriam: ‘Mas também, sem pai’. E decidi, ao invés de ser contra o mundo, sou a favor de buscar consensos, de achar oportunidade, de unir e não colocar culpa e também não eleger herói. Nunca elegi herói para poder colocar tudo neles depois. Às vezes o herói é o pai, às vezes o herói é o professor, às vezes o herói é o presidente da república. Não, eu sou o meu próprio herói. Existem vários modelos que podem ser de sucesso na favela. Mas eles são muito isolados. É como um jogador de futebol que vira o Neymar. Mas quando a gente chega aos 15, 16 anos, a gente descobre que não vai ser jogador de futebol, não vai ser o MC Daniel, não vai ser um cara famoso na internet. Começar a descobrir isso com essa idade, sem ter investido na educação, sem ter estudado, sem ter uma formação, a única alternativa é a violência. Conto a minha história para dizer que não sou ex nada. Não sou ex-traficante, não sou egresso do sistema prisional. Quero mostrar que existe um outro caminho. Você pode ser um comerciante, um empresário, um professor, você pode ter outras opções. Nós temos que dar perspectivas de sucesso, que não seja MC Daniel ou Neymar. Olho para esse monte de menino na favela querendo ser jogador de futebol, ou querendo ser MC, e se espelhando em pessoas que por vezes estão explorando a pobreza e a própria favela com os joguinhos, que deixam as pessoas mais pobres”.

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