A discussão sobre a anistia para os envolvidos nos atos de 8 de janeiro escancarou uma divisão entre a direita bolsonarista e o Centrão. Se a primeira insiste em uma anistia “ampla, geral e irrestrita”, que incluiria a anulação das condenações criminais e eleitorais de Jair Bolsonaro — permitindo sua volta ao jogo político —, os partidos do Centrão trabalham em outra direção: querem um acordo que reduza penas, mas sem abrir confronto com o Supremo Tribunal Federal (STF) e sem reabilitar o ex-presidente.
Em análise no programa Os Três Poderes, o jornalista José Benedito da Silva, da coluna Maquiavel, destacou que a aprovação da urgência da PEC da Anistia não significa alinhamento entre os dois blocos. “É preciso separar a votação da urgência da votação do mérito. Muitos parlamentares acharam que era o caso de discutir o tema, mas não vão acompanhar o PL no conteúdo da proposta”, explicou.
O PL, maior bancada da Câmara, sustenta sozinho a defesa do perdão pleno a Bolsonaro. Nem mesmo aliados habituais, como o partido Novo, embarcam integralmente nessa tese. Já o Centrão — composto por partidos como União Brasil, PP, Republicanos, PSD e MDB — tem se mostrado aberto à proposta intermediária conduzida pelo relator Paulinho da Força (Solidariedade-SP).
Segundo Benedito, essa posição se apoia em dois pontos centrais: evitar uma briga aberta com o STF, que já declarou inconstitucional qualquer tentativa de anistiar crimes contra a democracia, e bloquear o retorno de Bolsonaro às urnas. “Eles querem beneficiar o maior número de pessoas envolvidas nos atos, reduzir parte da pena do ex-presidente se for o caso, mas não anistiá-lo nem devolvê-lo ao jogo eleitoral”, disse.
A reação de Bolsonaro, nos bastidores
O colunista avalia ainda que o próprio Bolsonaro já estaria resignado com esse cenário. “O PL vai ficar isolado e perder essa guerra, embora, como sempre, faça muito barulho”, concluiu.
O governo federal, por sua vez, deve se alinhar à saída menos traumática, em sintonia com a articulação do Centrão. Assim, enquanto a base bolsonarista pressiona por uma solução radical, as forças políticas que de fato comandam o Congresso parecem caminhar para uma alternativa que pacifique sem reacender embates com o Supremo.