A queda vertiginosa do dólar no Brasil representa uma derrota silenciosa de Donald Trump nos Estados Unidos. A moeda americana tem queda de 13% no ano no Brasil e está cotada a 5,30 reais — o menor valor em 15 meses. O novo governo em Washington, avaliava-se, promoveria uma combinação de estímulos fiscais, fechamento comercial e restrições na oferta de trabalho, o que tenderia a elevar a inflação e, consequentemente, manter juros altos por mais tempo. “O cenário era de dólar forte, reforçado por questões globais como a trajetória da dívida pública americana e a incerteza em torno das eleições de 2026”, afirma Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV.
A realidade, no entanto, mostrou-se distinta: a moeda americana perdeu fôlego diante de fatores internos e externos que minaram a confiança dos investidores. Entre as razões para a fraqueza do dólar, Padovani cita a crescente preocupação com a sustentabilidade da dívida pública dos EUA, a instabilidade das políticas comerciais do novo governo e dúvidas sobre o papel norte-americano nos fluxos globais de comércio. Além disso, a possibilidade de uma desaceleração mais acentuada da economia americana abre espaço para cortes de juros pelo Federal Reserve, o que tende a enfraquecer ainda mais a divisa.
Esse contexto internacional, explicou o economista, tem impacto direto no Brasil. A queda do dólar reduz pressões inflacionárias, já que diminui o custo de produtos importados e alivia a volatilidade dos mercados financeiros. “Com o dólar controlado, a tensão fiscal e eleitoral fica em segundo plano, o que abre espaço para o Banco Central considerar cortes de juros no ano que vem”, disse Padovani. Para investidores e agentes de mercado, a trajetória da moeda americana será determinante nos próximos meses. A permanência do dólar em patamares mais baixos pode consolidar uma janela de estabilidade, mas qualquer mudança na política econômica dos Estados Unidos ou sinais de recuperação mais forte da atividade podem inverter o movimento rapidamente.