O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a atacar emissoras de TV nesta sexta-feira, 19, afirmando que redes críticas ao seu governo deveriam perder suas licenças de transmissão. A declaração ocorre em meio à polêmica suspensão do programa Jimmy Kimmel Live!, da ABC, após comentários do apresentador sobre a morte do ativista de extrema direita Charlie Kirk, assassinado por um atirador enquanto palestrava em uma universidade de Utah.
“Eu acho que talvez a licença deles devesse ser retirada”, disse o presidente a bordo do avião presidencial, o Air Force One, atribuindo essa decisão ao chefe da Comissão Federal de Comunicações (FCC), Brendan Carr.
O afastamento do comediante ocorre poucos meses após a emissora CBS anunciar o fim do talk-show de Stephen Colbert, outro crítico de Trump, citando questões econômicas, e reacendeu o debate sobre os limites da liberdade de expressão no país.
A decisão da CBS, controlada pela Disney, de retirar o programa de Colbert do ar “por tempo indeterminado” gerou protestos em Los Angeles, onde centenas de manifestantes exibiram cartazes com frases como “Não se ajoelhe diante de Trump” e “Resista ao fascismo”.
Agora, críticos também acusam o governo de pressionar a ABC diretamente e denunciam uma ofensiva generalizada contra a Primeira Emenda da Constituição americana, que protege a liberdade de expressão. Já aliados do presidente afirmam que a medida combate o “discurso de ódio” e acusam figuras da esquerda de “tentarem justificar” o assassinato de Kiek.
O que Kimmel disse?
Em um monólogo na segunda-feira 15, Kimmel ironizou o uso político da morte de Kirk por aliados de Trump. “Atingimos novos pontos baixos no fim de semana com a gangue MAGA (Make America Great Again) tentando caracterizar esse garoto que matou Charlie Kirk como qualquer coisa diferente de um deles, e fazendo tudo o que pode para ganhar pontos políticos com isso”, disse o apresentador.
No dia seguinte, abordou o assunto novamente: “Muitos na Terra MAGA estão trabalhando duro para capitalizar o assassinato de Charlie Kirk”. O comediante também questionou declarações do vice-presidente americano, J.D. Vance, que responsabilizou a esquerda pelo crime sem apresentar provas.
Na quarta-feira, Trump comemorou a suspensão do programa. “Ótimas notícias para a América: o Jimmy Kimmel Show foi CANCELADO”, escreveu ele em sua rede social, a Truth Social. Trump chamou o apresentador de “sem talento” e pediu o cancelamento de outros programas noturnos da NBC, apresentados por Jimmy Fallon e Seth Meyers, também críticos de sua gestão.
A medida foi vista por sindicatos de roteiristas e atores, além de entidades de defesa dos direitos civis, como uma capitulação da mídia diante da pressão do governo. O ex-presidente Barack Obama também criticou a postura da Casa Branca. “Depois de anos reclamando da ‘cultura do cancelamento’, a atual administração elevou a prática a um novo patamar, ameaçando rotineiramente as emissoras que não se alinham às suas preferências”, escreveu ele em postagem no X (ex-Twitter).
Apesar das ameaças, a legislação americana impede a FCC de cassar licenças com base em críticas ou cobertura desfavorável. Ainda assim, executivos da ABC admitiram ter sofrido pressão direta de Carr, presidente da agência, que nesta semana fez uma ameaça velada: emissoras na mira de Trump podem ser investigadas.