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Como Odete Roitman deu aula de literatura em cena de Vale Tudo

Fala, pessoas!

Nos últimos dias, uma cena do remake da novela Vale Tudo chamou muito a minha atenção e também a dos internautas mais ligados em literatura. E eu vou te explicar o porquê.

Foi quando a vilã Odete Roitman anunciou que iria se casar com César, personagem interpretado por Cauã Reymond. O problema? César era amante da própria nora dela! Imagina o clima na sala de jantar… A família inteira se revoltou contra ela e, como boa vilã de novela, Odete respondeu com… poesia.

Mas não é qualquer poesia: ela criou um poema inspirado em Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade. Isso mesmo: ela pegou a estrutura de um clássico da literatura brasileira e adaptou à sua situação amorosa.

Veja a versão da Odete:

“Solange que amava Afonso, que amava Fátima, que amava César, que agora me ama. Só a pobre da Celina que ficou fora dessa história.”

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Percebeu o que aconteceu aqui? Odete criou uma paródia do poema original de Drummond, usando os personagens e o drama da própria novela. É intertextualidade pura: um texto novo que dialoga diretamente com outro já existente.

Só para refrescar a memória, aqui vai o Quadrilha original:

“João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história.”

Esse poema trata dos desencontros amorosos: todo mundo gosta de alguém, mas ninguém é correspondido. E, no final, tudo termina em solidão, tragédia ou em caminhos inesperados.

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Agora, olha a genialidade da Odete: ela mantém a ideia central dos amores cruzados e não correspondidos, e a transporta para sua realidade. Como se dissesse: Viu? A vida amorosa é sempre confusa. Então, por que eu também não posso viver a minha confusão?

E é aí que entra o ponto-chave: intertextualidade é isso, quando um texto faz referência a outro para reforçar uma ideia, provocar humor, criar ironia ou até uma crítica.

No caso da novela, Odete não apenas cita Drummond, ela recria Drummond. Mantém a estrutura, troca os personagens e encaixa tudo na sua narrativa. Esse tipo de intertextualidade é conhecido como paródia.

É o encontro entre literatura clássica e cultura pop, entre poesia e telenovela.

E tem mais: ao usar Drummond, a novela também traz aquele olhar meio pessimista do amor que está no poema original — os amores não correspondidos, os caminhos tortos da vida, e até quem fica de fora da história. No caso, a Celina é a “esquecida”, tal qual o famoso J. Pinto Fernandes.

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Ou seja: até na ironia, a novela respeita a essência do texto literário. Por isso, essa cena é um prato cheio para falarmos de literatura e intertextualidade na cultura brasileira.

Afinal, a literatura não está só nos livros. Ela está na novela, na música, no cinema… Entender isso pode ser a chave para compreendermos melhor a língua portuguesa no nosso dia a dia.

E aí, o que achou disso tudo? É assim que eu gosto de enxergar a nossa língua: viva, presente, acessível.

Já manda esse texto para aquele colega que acha que português é só gramática e prova!

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Ah, e lembre-se: toda terça e quinta tem conteúdo novo aqui na coluna. Se gostou, compartilhe. Vamos espalhar conhecimento juntos?

Vamos que vamos!

Professor Noslen Borges www.professornoslen.com.br

Revisão textual: Profª. Ma. Glaucia Dissenha

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