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Lee Jae-myung quer Coreia do Sul como elo entre Oriente e Ocidente

Em sua primeira entrevista a um veículo ocidental desde que assumiu a presidência da Coreia do Sul, Lee Jae-myung, 61 anos, conversou com a revista americana Time e relembrou um início de governo que esteve longe de ser grandioso. Eleito em 3 de junho deste ano, Lee contou que chegou ao escritório oficial no centro de Seul na manhã seguinte e encontrou um cenário de abandono: salas cobertas de lixo, portas trancadas, mesas com monitores mas sem computadores: todos empilhados em um canto. Até mesmo artigos básicos de papelaria precisaram ser improvisados.

“Foi um período muito movimentado e caótico. Achávamos que tínhamos nos preparado bastante, mas não foi suficiente”, recorda

O caos tinha nome: Yoon Suk-yeol, seu antecessor, destituído após decretar lei marcial em dezembro, medida que mergulhou o país em seis meses de paralisia política e terminou em impeachment. A eleição antecipada de Lee marcou o início de um esforço para virar a página.

Cem dias depois, o novo presidente buscou dar sinais claros de mudança. Em Seul, impôs limite de 600 milhões de wons (cerca de US$ 430 mil) para empréstimos hipotecários, numa tentativa de frear o mercado imobiliário aquecido. Aprovou uma nova lei trabalhista que reduziu as responsabilidades legais de trabalhadores em greve e distribuiu cerca de US$ 10 bilhões em vales-presente, de US$ 110 a US$ 330 por cidadão, conforme a renda, para estimular o comércio local:

“Uma das minhas maiores conquistas foi estabilizar a situação política interna”, disse para a revista.

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Mas o maior obstáculo, segundo Lee Jae-myung, veio de fora. A turbulência deixada pela lei marcial atrasou em seis meses as negociações de um novo acordo comercial com os Estados Unidos. O tratado de livre comércio vigente desde 2012 havia sido abalado quando o governo Trump impôs tarifas de 25% sobre carros sul-coreanos, afetando um setor que responde por quase metade das exportações automotivas do país. No fim de julho, Lee conseguiu reduzir a tarifa para 15%, em troca da promessa de investir US$ 350 bilhões nos EUA. O acordo foi celebrado como um marco essencial para sua estratégia de reaquecer a economia sul-coreana.

No fim de julho, Lee conseguiu destravar as negociações. Em troca de promessas de investir US$ 350 bilhões em território americano e aceitar uma série de concessões, obteve a redução da tarifa para 15%. O acordo foi visto como uma vitória estratégica, essencial para recolocar a economia sul-coreana em movimento.

Este foi o plano de Lee Jae-myung para revitalizar uma economia enfraquecida. A Coreia do Sul, como se sabe, é o lar de empresas líderes mundiais como Samsung, Hyundai e LG, que estão na vanguarda da tecnologia. Porém, as empresas dizem sofrer um ambiente regulatório sufocante, pressões demográficas e à forte concorrência da China. Após anos de declínio constante, o PIB da Coreia do Sul cresceu apenas 2% em 2024, menos da metade da média da Ásia-Pacífico.

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Para tentar reverter a situação, o presidente sul-coreano aumentou em quase 20% os gastos em ciência e tecnologia e lançou o plano de transformar o país em uma “super economia de inovação”, com US$ 71,5 bilhões em investimentos em inteligência artificial nos próximos cinco anos. A aposta ganhou força com o anúncio de um acordo de US$ 16,5 bilhões entre Tesla e Samsung para produção de chips de IA no Texas.

Lee Jae-myung demonstra que tem buscado reposicionar a Coreia do Sul como uma espécie de ponte entre Oriente e Ocidente. Diferentemente da postura tradicional de seu Partido Democrata progressista,historicamente mais próximo de Pequim, crítico do antigo colonizador japonês e cauteloso em relação a Washington, o novo presidente quebrou uma tradição. Sua primeira viagem oficial ao exterior foi a Tóquio, antes mesmo de seguir para os Estados Unidos. Lá, ao lado do primeiro-ministro japonês, firmou a primeira declaração conjunta entre os dois países em 17 anos e prometeu atuar “como parceiros” daqui em diante.

Ainda assim, os desafios internos persistem: o país tem a menor taxa de natalidade e a maior taxa de suicídios entre as nações desenvolvidas, além de elevado desemprego juvenil:

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“Estamos em uma crise muito séria. Precisamos recolocar a economia nos trilhos e aumentar as oportunidades para o nosso povo.”

No mês que vem, em outubro, Seul sediará a cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico pela primeira vez em duas décadas. Lee aposta que o encontro, que reunirá os presidentes dos EUA e da China, será a chance de reposicionar a Coreia do Sul como protagonista na região. Mas o cenário internacional continua marcado por tensões. No mesmo dia em que concedia entrevista em Seul para a “Time”, a menos de mil quilômetros dali, o presidente chinês Xi Jinping recebia Vladimir Putin, Kim Jong Un e outros aliados em Pequim, em um encontro para comemorar os 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial que a imprensa ocidental apelidou de “eixo da revolta”. Outros dignitários incluíram os líderes do Irã, Bielorrússia e Mianmar (um grupo heterogêneo apelidado de “eixo da revolta” pela imprensa ocidental) em uma clara repreensão à ordem liderada pelos EUA.

Perguntado sobre a sua ausência na reunião, Lee respondeu com bom humor: disse que provavelmente a China esperava sua presença, mas que nem chegou a perguntar se seu nome estava na lista de convidados.

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