Com o aval leniente de Lula e o auxílio interessado de parte do PT, a Câmara aprovou em apenas 24 horas dois projetos que, na prática, aplainam o caminho para uma aliança eleitoral em 2026 entre partidos de centro-direita e o grupo de extrema-direita abrigado no Partido Liberal de Jair Bolsonaro.
Aprovou-se, primeiro, uma proposta de mudança na Constituição para impedir investigação crimes, processo judicial e condenação de parlamentares.
Apesar dos discursos públicos contrários, o governo liberou partidos aliados para apoiar e o PT ajudou com uma dúzia de votos favoráveis.
O resultado foi definido por 45 votos além do mínimo necessário (308 em dois turnos) e fez a alegria do grupo parlamentar conhecido como Centrão.
Horas depois, a Câmara aprovou urgência na votação de um projeto ainda inexistente para anistia aos já condenados e futuros sentenciados por tentativa de golpe de estado — os julgamentos no Supremo Tribunal Federal ainda não terminaram.
Essas duas iniciativas foram negociadas pelo deputado Arthur Lira, ex-presidente da Câmara.
Desde o final do ano passado, ele organiza uma “resposta institucional” à investigação determinada pelo STF sobre suspeitas de corrupção com emendas parlamentares, caso conhecido como orçamento secreto.
Lira somou seu interesse ao dos aliados de Bolsonaro num revide ao Supremo.
O resultado das conversas está na emenda constitucional para blindagem judicial de parlamentares e na urgência conferida a um projeto de lei de anistia cujo texto nem existe.
Nos dois casos é próxima de zero a chance de aprovação no Senado.


Aparentemente, o governo Lula e o PT se atropelaram no temor de um confronto simultâneo com Lira, Hugo Motta, líderes do Centrão e bolsonaristas na Câmara.
Alguns petistas acharam conveniente aderir para “garantir a governabilidade”, outros julgaram apropriado para “buscar o diálogo” sobre a agenda legislativa de interesse do governo.
Esses movimentos do governo e da oposição no Congresso não têm coerência com as tendências majoritárias entre eleitores, mostram pesquisas divulgadas nesta quarta-feira (17/9).
Ampla maioria (57%) se declara contra uma anistia ampla geral e irrestrita, informa a sondagem da AtlasIntel/Bloomberg.
Nos últimos oito meses, registra a Quaest/Genial, aumentou (de 47% para 54%) a proporção dos que se dizem convictos sobre a participação de Bolsonaro na tentativa de golpe.


Ainda assim, parcela expressiva (49%) acha que foi “exagerada” a pena imposta pelo Supremo — 27 anos e três meses de prisão, começando em regime fechado.
Metade dos eleitores considera que não há reparos a fazer ao STF no julgamento de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de estado. Os juízes foram “completamente imparciais”.



Rejeitam-se (52%) propostas para impeachment de Alexandre de Moraes, juiz-relator do caso.
Da mesma forma discorda-se (49%) da interpretação dada pelo governador paulista Tarcísio de Freitas à atuação de Moraes.
Ao qualificar o juiz como “tirano” num comício na avenida Paulista, o governador se expôs à crítica incisiva da maioria (54,5%) que se recusa a votar nele, caso mantenha essa postura numa eventual candidatura à presidência da República em 2026.