Às vésperas da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, um novo atrito ameaça as relações entre Brasília e Washington. O secretário de Estado americano, Marco Rubio, anunciou que os Estados Unidos devem adotar medidas contra o Brasil na próxima semana e voltou a criticar a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal. O aviso, feito em entrevista à Fox News, adiciona tensão à viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que abrirá os discursos na cúpula da ONU. No programa Mercado, de VEJA, o professor de Relações Internacionais e ex-diretor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) Márcio Sette Fortes afirmou que a sinalização de Washington não pode ser lida como mero gesto retórico. Para ele, há risco de sanções econômicas direcionadas a autoridades brasileiras, com potenciais efeitos sistêmicos sobre setores estratégicos da economia.
Fortes explicou que a Lei Magnitsky, frequentemente utilizada pelos EUA em disputas internacionais, permite punições a indivíduos ligados a violações de direitos ou corrupção. “Se ministros do Supremo forem incluídos, os bancos que mantêm relações com eles podem enfrentar restrições em pagamentos internacionais, no sistema Swift e em operações em dólares”, avaliou. Os impactos poderiam se espalhar rapidamente. No agronegócio, altamente dependente da importação de fertilizantes — entre 75% e 90% do consumo interno —, bloqueios financeiros representariam um risco direto à produção. “Isso afetaria a oferta de alimentos, pressionaria os preços no Brasil e no mundo e comprometeria exportações das quais muitos países dependem”, destacou.
Outro setor vulnerável é o energético. Apesar de autossuficiente em petróleo, o Brasil importa cerca de 70% do óleo usado para refino. Qualquer entrave nas transações financeiras poderia provocar gargalos no abastecimento. Fortes também chamou atenção para o risco de “contaminação” no setor tecnológico. Como parte significativa dos serviços de informática utilizados pelo sistema bancário brasileiro é prestada por empresas americanas, restrições cruzadas poderiam comprometer operações cotidianas.
Além disso, Washington pode revisar a lista de exceções que hoje livra cerca de 700 produtos brasileiros de sobretaxas. Segundo o especialista, tarifas adicionais seriam um golpe direto na competitividade da indústria e do agronegócio nacional. Na visão de Fortes, o mercado financeiro já precifica o risco de sanções, aumentando a pressão sobre o governo Lula. “A situação é séria porque atinge a interseção entre política e economia. O Brasil pode ser arrastado a uma crise internacional por causa de decisões internas”, concluiu.
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