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Mal ou mau? A aula de português no voto da ministra Carmen Lúcia

Fala, pessoas!

Que a ministra Carmen Lúcia é uma leitora refinada, ninguém questiona. Seus votos no Supremo Tribunal Federal são verdadeiros discursos literários, recheados de metáforas, referências e frases de efeito. Mas no julgamento que condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado, ela entregou mais que um parecer jurídico: entregou uma aula de português.

Ao apresentar um resumo de suas 396 páginas de voto, a ministra citou Victor Hugo, autor de Os Miseráveis, trazendo à tona uma frase impactante, extraída do livro A História de um Crime:

 

— Isso é um golpe de Estado […]

— Sim, mas é um golpe para o bem.

— O mal feito para o bem continua sendo mal.

— Mesmo quando ele tem sucesso?

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— Principalmente quando ele tem sucesso, porque se torna um exemplo e vai se repetir.

 

Essa passagem, para além do contexto político, nos oferece um excelente gancho para falar de um dos erros mais comuns da língua portuguesa: a diferença entre mal (com “l”) e mau (com “u”).

 

Afinal, por que “mal” que aparece na frase é com “L”?

 

— O mal feito pelo bem continua sendo mal.

 

Essa frase é praticamente um exercício de gramática disfarçado de literatura. Vamos explicar:

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✅“Mal” com L: advérbio ou substantivo

 

Na frase, “o mal feito pelo bem”, o termo mal está sendo usado como substantivo, ou seja, representa uma coisa ruim, um ato condenável. É o oposto de “o bem”.

Exemplo:

— O mal do século é a desinformação.

 

Mas “mal” também pode ser um advérbio, o oposto de “bem”, que seria o segundo “mal” da oração.

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Exemplo:

— Ele dormiu mal essa noite.

 

✅ “Mau” com U: adjetivo

Esse MAU é adjetivo e qualifica o sujeito, ele é o contrário de BOM.

 

Exemplo:

— Um líder mau pode causar grandes tragédias.

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Seu antônimo, claro, é bom.

 

Dica para não errar:

Substitua mentalmente por “bom” ou “bem” e veja o que faz sentido:

 

Se o oposto for bem, use mal.

 

Se o oposto for bom, use mau.

 

Quando a política vira pretexto para ensinar português

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A escolha da Ministra ao citar Victor Hugo não foi aleatória, ela traduziu em palavras o peso simbólico e ético da decisão que estava tomando. E, como bônus, entregou um mote para explicar a diferença entre “mal” e “mau”.

 

Conclusão: escrever bem é, também, entender o bem e o mal com todas as letras

 

Seja na linguagem da justiça, da literatura ou da política, as palavras importam. Entender a diferença entre mal e mau não é apenas uma questão de correção gramatical é uma forma de reconhecer nuances, intenções e, por que não, valores.

E quando a dúvida bater… lembre-se: “O mal feito para o bem continua sendo mal.

Gostou da coluna? Aqui tem conteúdo novo toda terça e quinta-feira. Se curtiu, compartilhe! Vamos espalhar conhecimento juntos?

Vamos que vamos!

Professor Noslen Borges

www.professornoslen.com.br

 

Revisão textual: Profª. Ma. Glaucia Dissenha

 

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