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Fafá de Belém se diz ‘livre’, critica empoderamento e fala de política

Musa das Diretas Já, que pedia o voto direto na redemocratização do país; a única cantora a se apresentar a três papas seguidos (João Paulo II, Bento XVI e Francisco); quem popularizou a toada Vermelho, do boi Garantido, de Paritins; a dona da risada sem igual… Tudo isso remete a Fafá de Belém, 69 anos. Mas é no seu sobrenome artístico que está o que mais lhe dá orgulho ao se apresentar. Ser de Belém do Pará a faz, desde já, embaixadora extraoficial da Cop30, a ser realizada em novembro em seu estado. A cantora é a convidada do programa semanal da coluna GENTE (disponível no canal da VEJA no Youtube, no streaming VEJA+, na TV Samsung Plus e também na versão podcast no Spotify). Nesta entrevista, ela fala sobre política, critica o que seria uma visão deturpada do “empoderamento feminino” e expõe sua mágoa com campanhas publicitárias e culturais que a excluem ao falar da Amazônia. Assista.

COP30. “Espero que deixe um legado e, fundamentalmente, um reconhecimento por nós, paraenses, amazonenses, acreanos, amapaenses, aos nossos saberes, fazeres, ao conhecimento ancestral para o mundo. O verde é a cura, temos que povoar de cores essa imensidão. Houve um apagamento porque ficamos distantes (do eixo Rio-SP). A Amazônia passou a ser uma coisa meio Disneylândia com alguns jacarés passeando, uns indígenas, um agente com uma cara de índio que não é índio… E não somos isso, somos tudo isso e muito mais”.

NÃO PERTENCIMENTO. “São 50 anos de carreira e, se você, olhar para todas as campanhas que fizeram sobre a Amazônia, nunca ninguém me convidou. Todas as campanhas de preservação da Amazônia, da PL da devastação… Nunca fui convidada a participar. Talvez porque eu seja uma pessoa alegre, talvez porque eles não tenham a profundidade de entender que a alegria é parte intrínseca do povo amazônico. Talvez eles não tenham capacidade para entender que a alegria não tem elo com a ignorância. Eu ficava muito sentida com isso. Hoje digo: ‘olha, o problema é deles, não é meu’. Nunca me convidaram, por exemplo, para o Dia do Índio, aquela manifestação que os povos indígenas fazem em Brasília”.

ROCK IN RIO: “Você não pode falar em Brasil sem falar da Amazônia. Ok, o carimbó e o Techno-brega também fazem parte, mas não se pode falar de carimbó e Techno-brega sem falar de Waldemar Henrique. E quando eu escrevi aquele manifesto (criticando o Rock in Rio), foi para que olhassem para nós como coletivo. Aí uma colega mandou no dia seguinte falando “vamos fazer um feat”. Falei: ‘não quer fazer feat para colocar no Rock in Rio, quero que o Rock in Rio olhe para a gente. Não se pode falar música brasileiro, no que foi chamado de ‘Dia Brasil’, sem ter um cantor amazônico, um grupo amazônico que represente nossa cultura. Mas o ego é tão grande, que levaram como ofensa pessoal e não como análise crítica.  Eu não preciso do reconhecimento do Rock in Rio nem de ninguém, sei quem eu sou e isso trago na minha história, porque a minha história é ligada ao meu povo e eu não preciso de validação”.

POLÍTICA: “Cantar é um ato político, viver é um ato político. A partir do momento que você recebe de um povo um legado de cruzamento de olhares, tem que pensar muito bem no que se fala. Vou falar uma coisa polêmica: não acho que o empoderamento feminino é uma mulher de quatro balançando o rabo. Desculpa. Fico muito preocupada com nossas adolescentes, pois a internet tem uma força grande. A mulher pode estar completamente depreendida, mas ela precisa ter uma atitude, ter um comando, e não é de quatro. Pode ser caretice minha, pode ser porque eu faça 70 anos ano que vem, mas atitude da mulher é fundamental para que ela se empodere e saiba que o comando está em suas mãos. O argumento de empoderamento a serviço do machismo mais retrógrado e da objetificação do corpo não me toca, não me motiva, não me seduz”.

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EM DEFESA DO FEMININO. “Você vê a Beyoncé de quatro? Você vê a Rihanna de quatro? Mas você vê os rappers, os caras cheios de cordão, cantando letras nem sempre bacanas objetificando as mulheres que estão lá. Eu não vejo uma cantora internacional cantando coisas. (…) Me vejo como uma mulher livre. Cheguei aos 50 anos gorda, com decote nos peitos que não eram para seduzir ninguém, mas porque me acho bonita e me adoro, libertando mulheres que estavam a serviço de uma estética eslava, do preto absoluto, sem a coisa da sensualidade. Existe coisa mais bonita e sensual que Maria Bethânia e Gal Costa? Eu trazia essa sensualidade amazônica, porque somos mulheres poderosas e sensuais”.

POLARIZAÇÃO POLÍTICA. “Entendo que a compreensão, o diálogo e o amor são a grande caminhada do mundo, nós vivemos um momento de tanto ódio… De nós e eles, nós não somos nós e eles não são nós. Eu posso pensar diferente de você radicalmente e sermos amigos, podemos debater sobre temas em posicionamento antagônico, podemos debater intelectualmente, e eu não dizer eu quero que você morra. A pandemia plantou uma coisa estranha, essa liberação do ódio pregada pela extrema direita no mundo todo, a coisa do retrocesso e do ódio às liberdades conquistadas por todos os lados. O ódio ao imigrante, o ódio à comunidade LGBT+, o ódio ao negro, o ódio ao indígena, o ódio a tudo que não é igual a você… É a base do fascismo”.

Sobre o programa semanal da coluna GENTE. Quando: vai ao ar toda segunda-feira. Onde assistir: No canal da VEJA no Youtube, no streaming VEJA+, na TV Samsung Plus ou no canal VEJA GENTE no Spotify, na versão podcast.

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