A viagem do presidente Lula para a assembleia geral da ONU, em Nova York, está testando a instrumentalização, pelo governo Trump, de embaraços à concessão de vistos para entrar nos Estados Unidos como retaliação política à deterioração da relação entre os países por causa da condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro à prisão.
Ano a ano, a comitiva que acompanha o presidente da República à sede das Nações Unidas costuma ser a maior dentre todas as missões diplomáticas brasileiras, via de regra com mais de 100 pessoas, entre ministros, diplomatas, assessores e ajudantes de ordens. A uma semana da fala de Lula na abertura da assembleia, na próxima terça-feira, ainda há vistos pendentes na comitiva do petista – um número que o Itamaraty não revela.
O chamado escalão avançado – uma equipe da Presidência da República encarregada de deixar tudo preparado para a chegada de Lula – deve desembarcar em Nova York na quarta-feira. O próprio presidente tem previsão de decolar de Brasília na sexta-feira e chegar aos EUA no sábado, acompanhado da primeira-dama Janja.
Na diplomacia brasileira, há quem considere que, se o atraso na concessão dos vistos persistir – ou, pior, transformar-se em cancelamentos ou rejeições, inclusive de vistos de ministros do governo federal – , existe risco real de a viagem de Lula ficar comprometida, inviabilizando a tão complexa logística exigida por uma missão desse porte.
Para piorar, a declaração do secretário de Estado americano, Marco Rubio, sobre oficializar na semana que vem a retaliação da Casa Branca à condenação de Bolsonaro gerou a perspectiva de que as medidas punitivas sejam anunciadas enquanto Lula e sua comitiva estiverem em missão nos Estados Unidos.