counter Fome força crianças a comerem ração animal em cidade sitiada por guerra civil no Sudão – Forsething

Fome força crianças a comerem ração animal em cidade sitiada por guerra civil no Sudão

A fome está forçando crianças a recorrerem à ração animal para não morrer de inanição em El Fasher, no Sudão. As informações foram divulgadas pelo jornal americano The New York Times nesta segunda-feira, 15. Localizada na região disputada de Darfur, a cidade está sitiada pelas Forças de Apoio Rápido (RFS, na sigla em inglês), uma das facções que tentam tomar o controle no país em meio a uma brutal guerra civil.

“Até nós comemos ração animal”, disse o médico Omar Selik durante uma entrevista ao NYT. Numa videochamada, ele apresentou a “refeição”: uma pasta feita de amendoim, normalmente usada na alimentação de burros, camelos e vacas. “Não há mais nada. As pessoas parecem ter se esquecido de nós”, acrescentou.

Conhecida como ambaz, a ração é um dos poucos alimentos disponíveis em El Fasher, mas leva riscos à população local, uma vez que é propensa à contaminação por fungos. Nas últimas semanas, socorristas locais relataram a morte de aproximadamente 18 moradores em decorrência do consumo em más condições.

Dilema cruel

A situação é desesperadora, uma vez que os comboios de mantimentos das Nações Unidas não conseguem acessar a região há mais de um ano. Todas as tentativas são rechaçadas por forças militares, embora não esteja claro de qual lado — do Exército ou das RFS vêm os ataques. Um comboio com 15 caminhões foi atacado ao tentar se aproximar da cidade em junho, resultando na morte de cinco trabalhadores. Em agosto, outra tentativa resultou na destruição de três dos veículos que carregavam mantimentos.

O cenário é agravado pelas constantes explosões que afligem os moradores. O hospital Al Saudi, o último em funcionamento em El Fasher, já foi atingido por bombas mais de trinta vezes. Em janeiro, setenta pacientes e funcionários foram mortos após as RSF lançarem um míssil contra uma enfermaria lotada.

Continua após a publicidade

A dura realidade faz com que os 260 mil civis no local se encontrem em um dilema profundo, destacado pelo NYT: ficar e morrer por inanição ou nos bombardeios das RSF, ou fugir e correr o risco de ser capturado, o que pode resultaria em morte certa.

De acordo com um dos poucos trabalhadores humanitários ainda presentes na cidade, Taha Khater, jovens que tentaram escapar da cidade foram capturados e executados por combatentes. Muitos se arrependem de não ter fugido quando as RSF tomaram Zamzam, um campo localizado ao sul da cidade. Mais de 500 mil pessoas deixaram a região após o evento, antes que os paramilitares erguessem um muro de 32 quilômetros ao redor de El Fasher. Imagens de satélite publicadas pela Universidade Yale, dos Estados Unidos, mostram a extensão da construção de barro.

Há ajuda humanitária disponível em Tawila, uma cidade localizada 64 km a oeste de El Fasher. No entanto, a viagem é difícil. Muitos combatentes patrulham a região, roubando ou extorquindo aqueles que conseguem capturar. Alguns são mortos e abandonados em covas cavadas às pressas. Para outros, o destino pode ser ainda mais brutal. Segundo o chefe do hospital Médicos Sem Fronteiras em Tawila, Sylvain Penicaud, o hospital local atende cerca de quarenta vítimas de estupro semanalmente. “E isso não é nada comparado à taxa real”, afirmou Penicaud ao NYT.

Continua após a publicidade

Todos os esforços diplomáticos para interromper os combates foram infrutíferos. Em 13 de agosto, o Conselho de Segurança da ONU reiterou seu apelo pelo fim do cerco, dois dias após os combatentes invadirem um acampamento em El Fasher, matando 57 pessoas. Dias depois, as RSF retornaram, executando mais 32 pessoas.

+ Deslizamento de terra deixa ao menos 1.000 mortos no Sudão

Guerra

A Guerra Civil no Sudão teve início em 2023, causada pela disputa de poder entre o comandante do exército sudanês, Abdel Fatah al Burhan, e o comandante das RSF, Mohamed Hamdan Daglo. Mais de 12 milhões de pessoas foram desalojadas, e dezenas de milhares morreram devido aos confrontos e à fome. Para muitas organizações internacionais, incluindo a ONU, o país vive a maior crise humanitária do mundo.

O conflito se intensificou em março, após o exército tomar o controle da capital do país, Cartum. Expulsas, as RSF redobraram seus esforços para dominar completamente a região de Darfur, localizada no oeste do Sudão. Neste momento, El Fasher é a única cidade restante em seu caminho.

Publicidade

About admin