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Roteirista italiano transporta personagens da Disney para a Grécia antiga

Filho de professores de latim e grego, o italiano Roberto Gagnor cresceu imerso no mundo clássico, em meio a livros e muita cultura. Além disso, Gangor também fez o Liceu Clássico, semelhante a um colégio de ensino médio no Brasil, mas com uma forte especialização em humanidades, o que lhe proporcionou uma formação muito sólida. Com essas influências, não foi tão difícil para ele adaptar as epopeias gregas atribuídas a Homero para o universo Disney.

Gagnor é conhecido por suas versões filologicamente precisas e divertidas da Ilíada e da Odisseia. A ideia surgiu pela ausência de versões fiéis, já que paródias anteriores, dos anos 1950 e 1960, eram mais livres e simples. “Foi divertido porque eu tive de voltar aos poemas para fazer esse trabalho”, disse o roteirista, em entrevista a VEJA. “Depois de relê-los e estudá-los, parti para o processo de adaptação, tratando de ser o mais fiel que podia à estrutura dos originais.”

Roberto Gagnor attends the presentation of the story of Topolino magazine Zio Paperone E La Memoria Ghiottona dedicated to the food and wine products of Lombardy at Palazzo Lombardia in Milan, Italy, on March 18, 2025 (Photo by Alessandro Bremec/NurPhoto via Getty Images).
FORMAÇÃO – Roberto Gagnor: formação clássica ajudou na adaptação da ‘Ilíada’ e da ‘Odisseia’, de Homero, para o mundo Disney –Alessandro Bremec/NurPhoto/Getty Images

Já faz alguns anos que as novas versões dos poemas homéricos foram lançadas na Itália, um dos principais hubs de criação dos quadrinhos da Disney. Em Topodisseia (2018), com desenhos de Donald Sofriti, Mickey assumiu o papel de Odisseu e Donald, o de seu companheiro Euriloco. Em Paperilíade (2022), cuja arte é assinada por Alessandro Perina, os patos são os aqueus e os ratos são os troianos, tendo como heróis novamente Mickey, como Heitor, e Donald, como Aquiles. No Brasil, a editora Panini manteve os títulos originais.

Capa de 'Odisseia', adaptação do poema épico de Homero, por Roberto Gagnor (texto) e Donald Sofritti (desenhos) -
Capa de ‘Odisseia’, adaptação do poema épico de Homero, por Roberto Gagnor (texto) e Donald Sofritti (desenhos) –Editora Panini/Divulgação
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Na tradução para o português, capitaneada pelo editor Marcelo Alencar, Mickey e Donald ganharam nomes como Micketor e Donaquiles, na Ilíada, ou Mickodisseu e Donaldu, na Odisseia. “A Odisseia foi mais fácil, por ter sido o primeira romance da história, com um fluxo mais linear”, explicou Gagnor. “A Ilíada, por ser mais fragmentada, exigiu mais intervenções criativas. Incluí a queda de Troia na história para evitar o funeral de Heitor, já que não podemos descrever coisas do tipo no universo Disney.”

O único personagem que não muda de um título para outro é Patetomero, o arauto de ambas as histórias. Gagnor deu-lhe memória curta, o que facilitou a atribuição de papéis. “A escolha do Pateta para o papel de Homero foi estratégica”, disse o roteirista italiano. “Por ser um personagem esquecido, ele me daria a liberdade de alterar os personagens da história mais tarde, algo que seria complicado se eu tivesse mantido os mesmos.”

Capa do álbum 'Ilíada', adaptação do poema épico de Homero para o universo Disney, por Roberto Gagnor (texto) e Alessandro Perina (desenhos) -
Capa do álbum ‘Ilíada’, adaptação do poema épico de Homero para o universo Disney, por Roberto Gagnor (texto) e Alessandro Perina (desenhos) –Editora Panini/Divulgação
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Referências

Em ambos os álbuns, Gagnor utiliza referências sutis e universais para suas piadas, mas reconhece a necessidade de adaptação cultural para diferentes públicos. Na Ilíada, por exemplo, a festa dos troianos após a partida dos gregos que haviam deixado o cavalo é uma paródia de canções italianas. As falas iniciais de Donaquiles foram adaptadas de entrevistas de Zlatan Ibrahimovic, o jogador de futebol conhecido por seu ego inflado e confiança exagerada.

O roteirista das versões disneyanas da Ilíada e da Odisséia, aliás, elogia o trabalho dos tradutores, como Marcelo Alencar (para o português), David Garstein (inglês) e Ugo Mattias (francês), destacando que a tradução não é literal, mas sim uma adaptação do “espírito” da obra. “Os tradutores internacionais de histórias da Disney fazem coisas incríveis”, disse Gagnor. “Todos eles fazem coisas muito, muito difíceis porque, em alguns casos, você realmente precisa reescrever, transformar e adaptar para testar. Nunca se pode ser fiel à palavra, deve-se ser fiel ao espírito da coisa.”

Além da Disney, Gagnor é um leitor voraz de quadrinhos, de X-Men e Calvin e Haroldo, Peanuts, The Boys, e mangás como Dr. Slump, de Toriyama. Também está trabalhando em mais histórias para a revista Topolino (como é chamado Mickey, na Itália) com temas mitológicos e em um romance literário que será lançado no próximo ano pela Harper Collins Italia. Seu sonho é escrever para a Marvel.

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