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World Press Photo: fotógrafo premiado conta bastidores dos registros

Uma escassez extrema. O caminho das águas que corta o verde da Amazônia deu lugar a um terreno pálido, manchado com pequenas poças que contam lembranças do que restou de uma abundância do passado. O espaço visto na fotografia de Musuk Nolte, premiada pela World Press Photo 2025, é na verdade o Rio Tarumã, localizado em Manaus, Amazonas. O registro foi feito em 4 de outubro de 2024 e exibe a paisagem marcada por linhas deixadas pelas hélices de barcos.

“ A sensação principal foi de assombro diante da radicalidade da variação do nível dos rios. É difícil imaginar a quantidade de água que representa a queda de apenas um metro no nível de um rio; neste caso, o nível caiu mais de 12 metros. Isso também gerava uma sensação de desorientação, já que muitas áreas pareciam desertos em vez de estarem no coração da Amazônia”, lembra o profissional peruano-mexicano ao ser perguntado sobre o que sentiu ao ver a seca. 

O sentimento reflete uma situação real: o rio é fundamental para a sobrevivência das comunidades ribeirinhas que, com a seca, ficam desamparadas ou têm suas rotinas afetadas. O curso d’água funciona como meio para viabilizar a locomoção da população, deslocar mercadorias e fornecer alimentos, por exemplo.

“Os principais desafios foram os problemas de mobilidade e acesso às áreas onde a água havia recuado, lugares que em condições normais só podiam ser alcançados de barco. Em alguns casos, era necessário caminhar 30 ou 40 minutos pelo leito seco do Rio Solimões. Essa era a situação que os moradores da comunidade pesqueira de Manacapuru enfrentavam diariamente, percorrendo esse trajeto para conseguir chegar até o porto”, revela o fotógrafo, que tem uma ligação de longa data com a região amazônica.

“A Amazônia é um lugar que frequento desde a infância e onde, sobretudo nos últimos anos, tenho trabalhado intensamente. Embora seja comum que os rios oscilem drasticamente entre a estação seca e a de chuvas, é evidente que tudo se tornou mais imprevisível e extremo. Isso está transformando profundamente a forma como o território é habitado, com um impacto claro tanto social quanto ambiental, a curto e a longo prazo”, aponta Musuk.

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Para ele, o papel da fotografia é construir um testemunho sobre a crise ambiental. Mas isso é apenas uma parte de um mecanismo mais amplo que também envolve o jornalismo escrito, as organizações, as comunidades e as próprias autoridades “eles precisam antecipar medidas para mitigar os impactos e caminhar em direção a uma relação mais sustentável com o meio ambiente. Por outro lado, acredito que as histórias singulares, com nome e rosto, são as que podem gerar maior empatia. Por isso, me interessa colocar em diálogo a documentação em nível macro da geografia com as histórias cotidianas e mais íntimas da população afetada”, conclui. 

Neste sábado, 13, o fotógrafo vai conduzir uma oficina gratuita, intitulada “Enfrentando Desafios Sociais Urgentes: O Encontro entre Documentário e Arte”, às 10h30, na CAIXA Cultural de São Paulo. O espaço recebe a exposição World Press Photo. Na parte da tarde, o profissional irá realizar ainda uma visita mediada à mostra, que apresenta os vencedores do 68º Concurso Anual.

As vagas são limitadas. As inscrições devem ser feitas pelo link: Oficina ‘Enfrentando Desafios Sociais Urgentes: O Encontro entre Documentário e Arte’, com Musuk Nolte

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