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O erro inadmissível que o Brasil não pode cometer no Oscar 2026

No início desta semana uma carta de teor humanitário, mas de visão totalmente cega em seu intuito, reuniu lideranças empresariais brasileiras pedindo para que na segunda-feira, 15, a Academia Brasileira de Cinema indique o filme Manas como representante do país no Oscar. Segundo a carta, a indicação dará visibilidade ao tema do filme, que é o combate ao abuso de menores. Para isso acontecer, a Academia teria então que ignorar os cinco outros concorrentes que disputam a vaga, sendo o mais relevante entre eles O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho. 

As redes sociais da Academia foram inundadas de protestos contra esse movimento que beneficiaria o longa dirigido por Marianna Brennand, cineasta brasiliense estreante em longas de ficção e influente no meio empresarial. Em outra movimentação estratégica, a produção angariou o “apoio” do ator Sean Penn, como se esse endosso fosse o peso necessário para a indicação do filme ao Oscar.   

A adolescente Jamilli Correa é protagonista de 'Manas'
A adolescente Jamilli Correa no filme ‘Manas’Giornate degli Autori/Divulgação

Por que será um erro se o Brasil não escolher O Agente Secreto

A resposta essencial para essa pergunta é entender como o Oscar funciona. A trajetória penosa de Ainda Estou Aqui deveria ter sido um exemplo lapidar disso. A Academia de Hollywood raramente se abre para produções de fora dos Estados Unidos – e quem consegue furar essa bolha precisa primeiro ter chamado a atenção dela em festivais europeus e conquistado uma excelente distribuidora no país americano. Essa distribuidora é que vai defender com unhas e dentes (e alguns milhões de dólares) o lobby e a divulgação que leva a possíveis indicações ao filme. Esses dois quesitos já foram cumpridos com louvor por O Agente Secreto

No Festival de Cannes, o filme levou quatro prêmios, o da crítica especializada, de melhor direção para Kleber e ator para Wagner Moura, e o AFCAE, prêmio especial da França, uma vitrine e tanto para a produção. Em seguida, O Agente Secreto foi adquirido pela Neon, distribuidora em alta no mundo, que conseguiu no ano passado levar o filme Anora ao prêmio máximo do Oscar. 

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no filme 'O Agente Secreto'
Cena do filme ‘O Agente Secreto’//Divulgação

Outro argumento de Manas que deve ser rebatido é a ideia de que O Agente Secreto já tem força para conquistar indicações por si só no Oscar. Isso não é um fato. Se perder a indicação do país, o filme automaticamente perde força na premiação – e pode também perder força dentro da própria Neon, que tem nesse ano outros filmes fortes que disputam a indicação ao Oscar de filme estrangeiro, caso do norueguês Sentimental Value e Foi Apenas um Acidente, de Jafar Panahi. 

Aliás, este é um ano tão expressivo para o cinema, que nem O Agente Secreto tem sua vaga garantida entre os possíveis indicados ao Oscar de filme estrangeiro. Manas, então, não só afundaria no esquecimento, como vai deixar muitos brasileiros irritados quando o filme não for indicado. Um exemplo que a produção de Manas parece ver como positivo, mas é negativo, é o caso de Anatomia de uma Queda, filme francês – eleito, aliás, um dos melhores filmes da história recentemente pelo NYT –, que não foi indicado pela França para representar o país e acabou, sim, sendo indicado em outras categorias, mas perdeu a chance de ganhar a estatueta que premia o país representado. Em contrapartida, o filme nomeado pelo país não só não foi indicado como se tornou alvo de haters – aliás, alguém aí lembra o nome desse filme ou chegou a vê-lo? Pois é. Que a Academia Brasileira não perca a chance de, em dois anos consecutivos, ter o Brasil brilhando no Oscar. 

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