A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) apoiou nesta sexta-feira, 12, um governo da Palestina livre do grupo palestino radical Hamas. Com placar de 142 a 10, a votação representa um passo em direção a um reconhecimento mais contundente de países árabes sobre as ações do Hamas, que matou 1.200 pessoas e sequestrou outras 251 nos ataques de 7 de outubro, ao mesmo tempo que aponta para um isolamento de Israel e dos Estados Unidos em rejeitar a solução de dois Estados.
“No contexto do fim da guerra em Gaza, o Hamas deve cessar de exercer sua autoridade sobre a Faixa de Gaza e entregar suas armas à Autoridade Palestina, com o apoio e a cooperação da comunidade internacional, de acordo com o objetivo de um Estado soberano e independente da Palestina”, diz o texto.
Por maioria, a ONU endossou a declaração de Nova York, organizada em junho pela Arábia Saudita e França — que, junto ao Reino Unido, Canadá e Austrália, reconhecerá o Estado da Palestina na próxima reunião de alto nível da Assembleia Geral, ainda neste mês. Entre os países que votaram contra, estão Israel, EUA, Hungria e Argentina. Houve 12 abstenções. O embaixador israelense na ONU, Danny Danon, condenou a decisão e alegou que “isso não é diplomacia, é teatro, uma encenação cuidadosamente encenada para as manchetes, e não paz”.
O documento apela pela criação de um Estado da Palestina enquanto condena os ataques de 7 de outubro e insta os militantes a libertarem os reféns restantes. Acredita-se que apenas 20 das 57 pessoas mantidas em cativeiro pelo Hamas ainda estejam vivas — no final de agosto, Israel conseguiu recuperar um corpo e restos mortais de dois reféns.
A declaração também prevê a implantação de uma “missão temporária de estabilização internacional” sob um mandato do Conselho de Segurança da ONU para proteger a população, apoiar o fortalecimento das capacidades do Estado palestino e fornecer “garantias de segurança à Palestina e a Israel”. Em declarações anteriores, a cúpula do Hamas já afirmou que o desarmamento do grupo é condicional: Israel deve bater em retirada dos territórios palestinos e deve ser estabelecido um Estado da Palestina soberano.
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Plano de assentamentos
Na véspera, primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, aprovou um controverso plano de expansão de assentamentos na Cisjordânia, território que os palestinos reivindicam como parte de um Estado próprio. Durante visita ao assentamento de Maale Adumim, Netanyahu declarou que “nunca haverá um Estado palestino”, aumentando o tom das ameaças: “Este lugar é nosso”. O premiê também prometeu proteger a “herança”, “terra” e “segurança” de Israel.
O projeto E1, que será estabelecido entre Jerusalém e Maale Adumim, estava congelado desde 2012 e 2020 devido a objeções internacionais. Agora, será retomado a partir da construção de milhares de unidades habitacionais, estradas e modernização da infraestrutura. A empreitada é estimada em cerca de US$ 1 bilhão (mais de R$ 5 bilhões). Especialistas alertam que a medida pode tornar inviável a criação do Estado da Palestina e dividirá a Cisjordânia, isolando Jerusalém Oriental.
O plano recebeu apoio de membros ultranacionalistas da coalizão de Netanyahu, incluindo o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, de extrema direita, que afirmou que a iniciativa “enterrará a ideia de um Estado palestino”. A proposta é rejeitada, em peso, pela comunidade internacional. União Europeia (UE), Estados Unidos e diversos grupos de direitos humanos reiteram que os assentamentos são ilegais segundo o direito internacional e prejudicam qualquer possibilidade de implementação da solução de dois Estados.
A Holanda declarou Smotrich e o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, persona non grata, ao passo que Reino Unido, Austrália, Canadá, Nova Zelândia e Noruega aplicaram sanções financeiras. No momento, cerca de 700.000 colonos judeus vivem em cerca de 160 assentamentos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, de acordo com dados do grupo israelense Peace Now. Para a organização, a expansão dos assentamentos levará ao “derramamento de sangue contínuo”, dificultando qualquer perspectiva de paz.