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Cientistas criam ‘relógio metabólico’ para identificar envelhecimento acelerado e sinais precoces de doenças

Você já parou para pensar se a idade que consta na sua certidão é a mesma que a do seu organismo? À princípio, pode parecer uma ideia estranha, mas a ciência está começando a levar essa questão a sério. Enquanto a idade cronológica é simples de calcular, a chamada idade biológica é bem mais complexa e ainda não existe uma forma única e universal de medir. Ela é moldada por fatores como genética, estilo de vida e ambiente, podendo indicar se o corpo está envelhecendo mais rápido ou mais devagar do que o esperado.

Para tentar desvencilhar esse mistério, pesquisadores têm desenvolvido ferramentas chamadas relógios biológicos, capazes de estimar a idade real do organismo a partir de estruturas específicas do corpo. Um estudo recente publicado na Nature, revista científica de grande prestígio, mostra que essas medições vão além de simples números. Elas podem revelar sinais de envelhecimento acelerado, pistas sobre doenças e até detalhes específicos sobre condições de saúde individuais. Em outras palavras, o que o seu corpo “sente” pode ser bem diferente do que o calendário diz. E entender essa diferença abre caminho para cuidados mais precisos e personalizados com a saúde.

Para chegar aos resultados, pesquisadores da Espanha e de outros países analisaram o sangue de mais de 20 mil pessoas usando ressonância magnética nuclear (NMR). Para interpretar esse enorme volume de informações, eles contaram com a ajuda da inteligência artificial. A tecnologia foi capaz de identificar características individuais no sangue de cada participante e, a partir disso, traçar um retrato da idade biológica, um indicador que mostra se o corpo está envelhecendo mais rápido ou mais devagar do que o esperado pela idade cronológica.

Esses “relógios” não são inéditos. Já existem versões como epigenéticas (baseadas em marcas no DNA), transcriptômicas (que analisam a atividade dos genes) e proteômicas (focadas em proteínas). Os metabolômicos, como os usados nesse trabalho, avaliam pequenas moléculas do metabolismo, como açúcares, gorduras e aminoácidos. O diferencial do novo modelo está no tamanho e diversidade da amostra e na possibilidade de associar  o “desvio” da idade metabólica a doenças específicas, como câncer de próstata e doenças hepáticas, criando uma ponte entre envelhecimento e saúde.

A coleta incluiu diferentes grupos. Trabalhadores da Mondragón Corporation, no País Basco (mais de 13 mil voluntários), mulheres de 39 a 50 anos em acompanhamento ginecológico em Madri, idosos atendidos em centros geriátricos, doadores de sangue na Itália e pacientes com doenças específicas, como câncer de próstata (717 homens) e doença hepática gordurosa associada ao metabolismo (MASLD) (169 pessoas).

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Quais foram os resultados?

Os resultados mostraram que, na maioria dos casos, a idade prevista pelo metabolismo ficou próxima da real. Mas o curioso é que, quando havia doença, a diferença saltava aos olhos. Nos pacientes com câncer de próstata, por exemplo, o corpo parecia ter, em média, cinco anos a mais do que a idade no documento. Já no caso da MASLD, o salto foi ainda maior, cerca de 14 anos.

Isso, opinam os pesquisadores, tem um potencial enorme na prática. “A importância desse estudo reside no fato de que discrepâncias entre a idade cronológica e a idade metabólica podem revelar marcadores precoces de doenças”, diz Óscar Millet, autor da pesquisa e chefe do Laboratório de Medicina de Precisão e Metabolismo do CIC bioGUNE, centro de investigação biomédica não lucrativo sediado na Espanha. Outro ponto é que, a partir desses resultados, médicos poderiam ajustar tratamentos e estratégias de prevenção de acordo com o “ritmo” de envelhecimento de cada paciente, algo que exames tradicionais, como biópsias ou análises de sangue convencionais, não conseguem mostrar.  

Além de prever a idade biológica, a metodologia consegue estimar mais de 25 parâmetros clínicos padrão, como inflamação ou função renal, usando a mesma amostra de sangue, o que poderia ajudar na obtenção de um panorama mais abrangente da saúde de um paciente a partir de um único teste não invasivo.

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Limitações

Claro que ainda há limites. O próprio estudo reconhece que medir a idade biológica em apenas um momento oferece apenas um “retrato instantâneo” do envelhecimento, algo que pode variar com estresse, infecções ou mudanças recentes no estilo de vida. Além disso, modelos treinados em uma população podem não funcionar da mesma forma em outras, já que fatores como dieta, ambiente e genética influenciam bastante o metabolismo.

Mesmo assim, a perspectiva é animadora. Os pesquisadores defendem que, com mais validações e ajustes, esse tipo de exame de sangue pode se tornar uma ferramenta de monitoramento clínico personalizado, ajudando a identificar riscos de forma precoce e acompanhar se intervenções, como dieta, exercícios ou medicamentos, realmente estão funcionando ou necessitam de adaptações.

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