O momento é histórico. Um país que nunca puniu tentativa de golpe de Estado, neste 11 de setembro de 2025 condenou oito réus, um ex-presidente e generais quatro estrelas a pesadas penas de prisão, começando em regime fechado.
O ex-presidente Jair Bolsonaro, aquele mesmo que um dia gritou na Avenida Paulista “queria dizer aos canalhas que eu nunca serei preso”, está condenado a 27 anos e 3 meses, sendo dois anos e seis meses em regime fechado.
Mas o que significa tudo isso para o futuro? Continua a pressão pela anistia no Congresso Nacional. Há o risco de um novo governo eleito acabe levando a um decreto de indulto, se a direita vencer em 2026.
O tempo dirá.
A questão mais importante, leitoras e leitores, é que o tamanho da pena neste momento mostra a força da democracia, do Estado de direito e de um judiciário independente dos outros poderes.
Além dos ataques à democracia, agora comprovados pelo STF, o ex-presidente tripudiou da população brasileira que sofria na pandemia, o momento mais dramático dos últimos anos.
“Vai ficar chorando até quando?”, dizia Bolsonaro, gerando enorme revolta em quem acredita na ciência como resposta e numa terra redonda. Por esse crime, ele sequer respondeu.
Esta coluna apontou muitas vezes que o ex-presidente cometia delitos, não respeitava valores universais, fragilizava as instituições brasileiras e era covarde com a imprensa (e jornalistas).
Por isso, o espaço virou alvo de ataques de apoiadores radicais e do próprio ex-presidente.
Um país com um histórico golpista desde a fundação da República, sempre com o envolvimento das Forças Armadas, precisa agora olhar para o espelho e entender que finalmente militares de alta patente e da reserva, como Bolsonaro, estão condenados por conspiração contra a Constituição.
E isso não é qualquer coisa.
Passamos pela fundação da República, por 1904, a “revolta” da Escola Militar da Praia Vermelha, 1922, o “movimento dos 18” do Forte, 1924, a “revolta paulista”, 1930, 1932, 1937, o “golpe do Estado Novo”, 1945 e a derrubada de Getúlio Vargas, Jacarecanga e Aragarças, 1955 contra JK e 1964, a noite mais sombria do último século.
Agora, o 8 de janeiro.
O que aprendemos?
Quando não há justiça o mal retorna das sombras. Pode estar vestido com outras roupagens ou trajes, mas volta a assombrar aquilo que temos de valor mais fundamental: a liberdade!
Presos na ditadura, meus pais nunca tiveram justiça pelos crimes cometidos contra eles em quartéis do exército. Seus direitos fundamentais foram violados. Descobri, como jornalista e escritor, quem eram seus torturadores, mas, além da exposição dos nomes, nada mais aconteceu.
Mesmo após a tortura, assassinatos e ocultação de cadáveres, opositores cassados, o Congresso fechado, a imprensa censurada, ministros do Supremo sendo trocados em plena luz do dia, o próprio STF, este que agora condena o líder da extrema direita, achou por bem não derrubar a anistia de 1979. Uma vergonha.
Hoje, nesta data histórica, a mesma corte decidiu não deixar impunes os golpistas da era moderna, viúvas da ditadura militar, incluindo a maior delas – sim, Jair Bolsonaro. É hora de entender o momento histórico, olhar para frente e acreditar em um futuro sem tentativa de golpe.
Que meus filhos Mariana e Daniel possam olhar para trás e saberem que a dor de seus avós não se repetirá. Um país que pune severamente golpistas solidifica valores democráticos.