O voto da ministra Cármen Lúcia no julgamento da trama golpista expôs o crescente isolamento do ministro Luiz Fux dentro da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). Divergente em relação à competência do tribunal e absolvendo réus dos principais crimes, Fux reagiu ao posicionamento da colega de maneira discreta, às vezes de cabeça baixa. Em um determinado momento, chegou a sair da sala rapidamente.
Logo no início, quando Cármen e o ministro Flávio Dino trocavam apartes em tom descontraído, Fux manteve-se de cabeça baixa, sem interagir. Pouco depois, foi alvo de provocações indiretas de Cármen, que lembrou que ele mesmo, em 2023, havia reconhecido a competência do STF para julgar o caso. “Vou votar do mesmo jeito que sempre votei”, resumiu a ministra, antes de classificar como “casuísmo gravíssimo” a mudança de entendimento sugerida pelo colega.
Sem encarar as imagens de Moraes
Enquanto o relator Alexandre de Moraes exibia no telão um discurso de Jair Bolsonaro para reforçar a acusação de intento golpista, Fux manteve os olhos fixos em um computador portátil, sem encarar as imagens. Em outro momento, enquanto Cármen e Moraes conversavam ao pé do ouvido, o ministro desviou o olhar para um ponto distante da sala.
O episódio mais simbólico ocorreu quando Cármen Lúcia votava pela condenação de Bolsonaro por organização criminosa e discorria sobre os crimes de golpe de Estado e tentativa violenta de abolição do Estado Democrático de Direito. Nesse momento, Fux deixou temporariamente a sessão, retornando pouco depois.
De volta ao plenário, pediu uma vez documentos a um auxiliar, mas passou a maior parte do tempo concentrado no computador. Durante a exibição do vídeo, levantou a cabeça apenas para mirar o lado oposto do telão, em claro distanciamento das provas projetadas. Em outro momento, foi flagrado em um rápido cochicho com Flávio Dino.
As reações discretas de Fux contrastaram com a firmeza de Cármen e o engajamento de Moraes, que atuaram para rebater a tese de que os atos em análise não configurariam tentativa de golpe. O comportamento do ministro, ora silencioso, ora ausente, reforçou a imagem de isolamento de quem, até aqui, é o principal divergente do julgamento.