No começo da sessão de julgamento que analisa tentativa de golpe de estado por integrantes do governo de Jair Bolsonaro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino afirmou que anistia não é sinônimo de paz. Isso porque, segundo ele, o perdão concedido pelo presidente dos EUA, Donald Trump, aos invasores do Capitólio, em janeiro de 2021, não colocou ponto final nas desavenças extremistas na política daquele pais, citando o assassinato do ativista de direita Charlie Kirk, empresário ligado a Trump, na quarta-feira, 10, com um disparo feito por um atirador em um prédio quando fazia uma palestra em uma universidade de Orem (Utah).
“Ontem, anteontem, infelizmente, houve um grave crime político. Um jovem, que é de uma posição política, aparentemente, do lado do atual presidente dos EUA levou um tiro. E é curioso notar porque há uma ideia, segundo a qual anistia, perdão, é igual a paz. E foi feito perdão nos EUA e não há paz. Porque, na verdade, o que define a paz que nós sempre devemos buscar não é a existência do esquecimento. Às vezes, a paz se obtém pelo funcionamento adequado das instâncias repressivas do Estado”, disse o ministro durante aparte concedido por Carmen Lúcia, que abriu a sessão desta quinta-feira, 11, com seu voto no processo.
A declaração de Dino ocorre em um momento que deputados, senadores e aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro articulam uma anistia que beneficiaria o capitão da reserva do Exército brasileiro e também os participantes dos distúrbios de inspiração golpista de 8 de janeiro de 2023.
No dia 6 de janeiro de 2021, uma multidão de apoiadores de Trump invadiu o Capitólio, sede do Poder Legislativo federal daquele país, em uma tentativa de barrar a posse do então presidente Joe Biden. Posteriormente, ao voltar a assumir o poder depois de vencer Kamala Harris nas eleições de 2024, Trump concedeu anistia para cerca de 1.500 pessoas que respondiam processos criminais pelos atos contra a sede federal.
No ataque, ao menos cinco pessoas morreram. Dois anos depois, em 8 de janeiro de 2023, a Praça dos Três Poderes do Brasil (Palácio do Planalto, STF e Congresso Nacional) foram invadidos e apedrejados por apoiadores do ex-presidente Bolsonaro. O episódio ganhou repercussão internacional e foi comparado ao atos do Capitólio.