Passar por experiências de quase morte mudou a mentalidade de Luciano Szafir, 56 anos. Em 2022, o ator testou positivo para Covid-19 pela terceira vez e, logo de início, foi diagnosticado com embolia pulmonar. O tratamento exigia altas doses de anticoagulante, resultando no rompimento do intestino – Luciano precisou passar por uma cirurgia com apenas 15% de chances de sobrevivência. A experiência resultou na autobiografia Por Favor, me de Mais 15 Minutos: Sobre Vencer Batalhas e Transformar Vidas (ed. Citadel), que será lançado nesta sexta-feira, 12, na Travessa do Barra Shopping, Rio de Janeiro. Em entrevista à coluna GENTE, Luciano conta sobre as sequelas que teve devido às internações e os traumas em sua família.
Quando surgiu a vontade de escrever um livro sobre sua trajetória? Foi tanta gente que queria escutar o que passei, que um dia encontrei o editor-chefe dessa editora e perguntou se eu não queria escrever um livro. Nunca pensei em escrever sobre isso, mas toda vez que sentava com amigos e falava as coisas mais fortes que aconteceram, eles se emocionavam.
O que mais te marcou? Tive três quase mortes. Quem acreditava que iria sobreviver era a menina da limpeza e o da manutenção do ar-condicionado. Quem tinha algum conhecimento médico não falava para mim, mas falava para minha mulher que eu tinha pouca chance de sobrevivência.
O que aprendeu? O único ensinamento é termos gratidão pelo dia de hoje. Se estamos vivos é um milagre. Quando estava ali e meu coração parou por trinta segundos e os médicos começaram a correr, só pensava em meus filhos, na minha mulher, nos meus irmãos e na minha mãe. Não precisamos passar por algo pesado para valorizarmos, nos importamos com carreira e tantas outras coisas que esquecemos que estamos aqui de passagem.
Isso tudo por causa da pandemia? Sim, peguei Covid, mas tinha sido a terceira vez, dessa vez comecei a ter complicações. Cheguei a ter 90% do pulmão comprometido, o que acarretou em embolia pulmonar, que mata. Tive que tratar com anti-coagulante, que rompeu meu intestino e foram me entubar para colocar uma bolsa de colostomia. Essa foi a cirurgia que quase morri.
Teve medo? No livro tem uma passagem sobre a vez que meu coração parou. Estava indo dormir e quando abro o olho, tem vários médicos em cima de mim. Quando vejo, meu coração estava com 185 de batimento cardíaco, com uma dor no peito muito forte. Quando vi, o coração estava a 220 e escutei o “pi”, de repente vi o filme da minha vida. Caiu a ficha que iria morrer e, no momento, fechei os olhos e só aceitei a morte.
O que pensou no momento? Eu agradeci. Agradeci por ter tido uma vida maravilhosa, fui privilegiado, com pais amorosos, nunca me faltou nada, tive filhos maravilhosos, família, irmãos, amigos, viajei o mundo… Vivi intensamente, mas pensei: ‘podia ser mais longa a vida, queria ver meus netos, mas tudo bem, posso ir embora’. De repente escutei o ‘pip’ de novo, vi que estava vivo.
Nomeou o livro de Me dê mais 15 minutos por isso? No momento só queria mais 15 minutos para pegar o telefone e ligar para os meus filhos, minha mulher, minha mãe… só queria falar ‘te amo’ uma última vez.
Como esse momento mudou sua perspectiva de vida? Comecei a ter medo da morte, aquele medo constante, percebi o quão fraco eu sou. Nunca pensava na morte, nem quando era jovem vivia de adrenalina. Já pulei de paraquedas, capotei carro, caí de dez metros de altura quando escalava e não pensei na morte. Hoje virei um medroso.
E isso afetou sua saúde mental? Sim. Ficar sem conseguir andar três passos, com tubo de oxigênio e ser entubado… Era horrível, porque escutava tudo que falavam comigo. Mesmo sedado, escutava pessoas falando de como estava péssimo e sentia as dores, isso tudo sem conseguir se mexer. Por um ano tive ajuda profissional, tomei antidepressivo, tive crise de pânico e tinha medo de alguma coisa acontecer comigo.
Como sua família lidou? Hoje, quando começo a falar, minha mulher se afasta, foi a que mais sofreu, estava cuidando de mim o dia todo e ainda precisava cuidar dos nossos filhos. Ela tinha que voltar à noite para casa e passar o dia inteiro comigo no hospital e via tudo, todas as dores e momentos complicados. Em geral, todos ficaram preocupados e preferem não falar sobre, para não reviver o momento.
Inclusive a Sasha? Ela não soube no momento. Estava em lua de mel e não queria atrapalhar ela, então proibi minha mulher de falar com ela. Pensa em uma filha brava, ficou doida com a minha mulher. Tive que me explicar depois para ela.
E Xuxa? Eu não falei nada, porque não tinha condições nenhuma, quem falou foi minha mulher, era minha porta-voz. Mas tenho uma relação muito boa com a Xuxa, ela sempre perguntava por mim e queria saber do meu estado de saúde.
Como lida com a vida atualmente? Me irrito menos e me preocupo menos. Antes não pensava na morte, hoje sei da fragilidade da vida. Às vezes chego cansado e meus filhos falam: ‘pai, me ajuda no dever?’ ou ‘pai vamos jogar bola?’ e fico com eles mesmo assim, sei que tempo com eles é importante. O mesmo com trabalho, depois de uma determinada hora, paro de responder, não deixo o mundo me absorver. Acordava cinco horas da manhã para malhar e só parava às nove da noite. Hoje desacelerei, não aguento a mesma rotina e cuido mais de mim.
Da época das passarelas como modelo, quem mais te marcou? Quando eu tinha 21 anos, Madonna me chamou para fazer uma campanha com ela para uma revista francesa. Mas quando vi que seria uma foto com cinta, espartilho e calcinha pensei: ‘meus pais vão ver isso’, e neguei. Eram outros tempos, tudo era um tabu. Eu era muito fã da Madonna, ia para o show dela e ficava na primeira fila, mas aquilo não era minha praia.
Faria a foto hoje? Não sei se faria. Poderia fazer um filme, como se estivesse contando a história de uma outra pessoa, mas não sei como modelo. Sem preconceito, cada um faz o que quiser, mas não tenho vontade de fazer.
Passou por assédios? Há muito assédio nesse meio, principalmente com as mulheres. Mas nunca baixei a cabeça e talvez por isso nunca tive propostas indecentes. Numa época, fiz uma propaganda para uma marca de roupa grande e o CEO veio com um papo estranho, mas fui bastante duro com ele e logo recuou.