A ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, admitiu que foi um erro não ter questionado a decisão de Joe Biden de disputar a reeleição em 2024, apesar de sua idade avançada. Em seu novo livro, 107 Days — referência aos 107 dias de sua própria campanha pela Casa Branca —, que será lançado em 23 de setembro, Harris chama de “imprudência” o fato de os democratas terem deixado que a escolha fosse guiada pelo “ego” do então presidente e de sua equipe.
Em trechos divulgados nesta quarta-feira, 10, pela revista The Atlantic, Harris revisita os bastidores da eleição que terminou com a vitória de Donald Trump e reconhece que hoje acredita que deveria ter pressionado Biden a desistir da candidatura. “Durante todos aqueles meses de pânico crescente, eu deveria ter dito a Joe para considerar não concorrer? Talvez”, escreveu. “Mas o povo americano já o havia escolhido antes, no mesmo confronto.”
A declaração de Harris a coloca ao lado de dezenas de outras figuras do Partido Democrata que, desde a posse de Trump, têm admitido publicamente que a tentativa de reeleição de Biden aos 81 anos foi um erro. Muito antes do debate desastroso contra Trump, em junho de 2024, líderes democratas já questionavam, nos bastidores, se ele deveria concorrer novamente. A publicação promete reabrir feridas no partido, que ainda busca se reorganizar após a derrota e redefinir sua liderança para os próximos anos.
Harris relata que sua posição como vice-presidente tornava difícil questionar Biden, que poderia ver a sugestão como um ato de deslealdade. Por isso, na época, ela e outros líderes democratas optaram por dar “graça” ao casal presidencial para que tomassem a decisão sozinhos. “As apostas eram altas demais para que fosse apenas uma decisão pessoal”, afirma.
A ex-vice-presidente também descreve momentos de tensão dentro da Casa Branca. Sem citar nomes, acusa integrantes do círculo íntimo de Biden de não a defenderem de ataques da direita, de alimentarem narrativas negativas sobre sua atuação e de falharem em comunicar adequadamente seu papel no governo — especialmente na questão migratória, quando foi apelidada de “czarina da fronteira”.
Embora rejeite a ideia de que Biden estivesse incapacitado para governar, Harris admite que a idade pesou durante a campanha. “Aos 81 anos, Joe se cansava. Foi quando sua idade ficou evidente nos tropeços físicos e verbais”, escreveu, lembrando que uma maratona de viagens antes do debate contra Trump expôs os limites de sua resistência.
Ron Klain, ex-chefe de gabinete da Casa Branca, reconheceu em entrevista ao New York Times que Harris nem sempre recebeu o apoio necessário para brilhar, apesar de seu protagonismo em pautas importantes durante o governo.
