Pesquisadores alertam que a quantidade de dióxido de carbono (CO₂) que pode ser armazenada com segurança no subsolo é muito menor do que estimativas anteriores, reforçando os riscos de depender de uma tecnologia ainda em estágio inicial para atingir metas climáticas globais.
Um estudo do Imperial College London, publicado na revista Nature, aponta que o gás de efeito estufa pode escapar de volta para a atmosfera após ser injetado no subsolo.
Fatores como risco de terremotos, falhas de engenharia e disputas territoriais reduzem a quantidade segura de armazenamento para menos de 1.500 gigatoneladas (GT), frente a estimativas anteriores de até 40 mil GT.
Segundo cenários medianos analisados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, meta do Acordo de Paris de 2015, exigiria sequestrar 8,7 GT de CO₂ por ano.
Esse volume necessário supera, dependendo da velocidade de implementação da tecnologia, o limite considerado seguro pelos cientistas.
Cientistas alertaram que o armazenamento de carbono deve ser visto como um recurso escasso e não uma solução ilimitada para devolver o clima a níveis seguros.
Assim, políticas públicas devem usar a tecnologia para mitigar efeitos do aquecimento global, e não para compensar emissões evitáveis de eletricidade fóssil ou motores antigos.
Planos nacionais de clima que buscam “emissões líquidas zero” em 25 anos, como no Reino Unido e nos EUA, dependem parcialmente da captura de CO₂ e de seu armazenamento subterrâneo.
Estratégias naturais, como reflorestamento e melhoria da saúde do solo, são alternativas, mas oferecem armazenamento menos durável.
Empresas poluidoras, como Microsoft e Amazon, já investem em projetos de remoção de carbono que captam CO₂ do ar, de queima de biomassa ou de processos industriais.
O desafio está no armazenamento. Para minimizar vazamentos, o estudo recomenda injetar o CO₂ entre 1 km e 2,5 km de profundidade, ou em oceanos até 300 metros de profundidade, em regiões de baixa atividade sísmica e longe de reservatórios de água, áreas protegidas ou territórios contestados.
Atualmente, apenas 600 mil toneladas de CO₂ são armazenadas anualmente no mundo, segundo relatório da Smith School of Enterprise and the Environment, da Universidade de Oxford.
O CO₂ removido é geralmente armazenado em campos de petróleo e gás esgotados ou formações rochosas naturais. Rússia, EUA, China, Brasil, Arábia Saudita e Austrália possuem grandes áreas potencialmente seguras para armazenamento, segundo o estudo.
Para piorar, essas estimativas de capacidade ainda são otimistas, pois não consideram limitações econômicas. Apenas uma fração será acessível a preços que a sociedade estará disposta a pagar.
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Líderes mundiais vão discutir soluções para a redução de emissões globais, garantindo que tecnologias de captura e armazenamento de carbono sejam seguras, eficazes e financeiramente viáveis.
Outro ponto central será a preservação das florestas tropicais, como a Amazônia, fundamentais para a remoção natural de CO₂.
A conferência também deve abordar financiamento climático, responsabilidades históricas dos países mais poluidores, adaptação de comunidades vulneráveis às mudanças climáticas e o cumprimento das metas do Acordo de Paris, que exige limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.