O grupo palestino radical Hamas divulgou nesta sexta-feira, 5, um vídeo que mostra dois reféns na Cidade de Gaza, onde as tropas israelenses avançam para tomar controle total sob ordens do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Na gravação, que marca o 700º dia da guerra na Faixa de Gaza, são vistos Guy Gilboa-Dalal, de 24 anos, e Alon Ohel, 22. Acredita-se que apenas 20 dos 57 sequestrados mantidos pelos militantes ainda estejam vivos — no final de agosto, Israel conseguiu recuperar um corpo e restos mortais de dois reféns.
Filmado sob coação, Guy aparece em um carro que anda por vários pontos da Cidade de Gaza, como confirmou uma análise de geolocalização da emissora americana CNN. O veículo passa, inclusive, do lado de fora da sede do Crescente Vermelho Palestino, um movimento internacional humanitário, sem que o Hamas permitisse que os reféns recebessem tratamento. É possível ver prédios danificados pelos bombardeios israelenses através da janela. Ele diz que a data da filmagem é 28 de agosto e que está refém há 22 meses.
No final do vídeo, surge Alon ao lado de Guy no carro. Os dois israelenses se abraçam e repetem várias vezes: “Não acredito que estou te vendo”. Em outro momento, Guy faz um apelo pelo fim do conflito: “É só isso que queremos, só queremos que isso (a guerra) acabe. Nós queremos voltar para as nossas famílias. Por favor, nos traga de volta”, no que parece ser uma mensagem a Netanyahu.
Após a divulgação, o líder da oposição israelense, Yair Lapid, disse que a gravação é “mais um doloroso lembrete de que Israel deve voltar às negociações para resgatar os reféns e tentar fechar um acordo”, acrescentando: “Devemos fazer tudo para trazê-los de volta para casa. Enviando força às famílias — vocês não estão sozinhas, estamos com vocês”. Em contrapartida, o ministro da Segurança Nacional de extrema direita, Itamar Ben-Gvir, incentivou a operação na Cidade de Gaza como um meio para combater o Hamas.
“O terror psicológico do Hamas – para que paremos a operação em Gaza. A resposta necessária: ocupação total, esmagamento completo, forte incentivo à emigração. Só assim prevalecemos, e só assim conseguimos trazer os reféns de volta em segurança”, Ben-Gvir ele no X, antigo Twitter.
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Protestos em Israel
Na quarta-feira, 3, um carro do Exército foi incendiado por manifestantes nas proximidades da residência do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. O episódio aconteceu em meio a protestos em todo o país contra a convocação de reservistas para uma ofensiva na Cidade de Gaza que pode colocar em risco a vida dos reféns que ainda estão em posse do Hamas.
Os organizadores do “dia da interrupção” buscam pressionar o governo a negociar um acordo para libertar os 48 israelenses mantidos em cativeiro, vinte dos quais acredita-se estarem vivos. A iniciativa marcou protestos próximos a residências e escritórios de altos funcionários da administração, subindo o tom contra as ações militares em Gaza. Isso gerou críticas imediatas por parte das autoridades.
Uma quantidade significativa de manifestantes se reuniu no entorno da residência oficial de Netanyahu para apresentar suas reivindicações. No entanto, o movimento acabou levando ao incêndio de caçambas e pneus. O fogo se alastrou, e acabou consumindo o carro de uma reservista das Forças de Defesa de Israel (FDI). Outros veículos foram danificados em diferentes regiões de Jerusalém, e embora ninguém tenha ficado ferido, a polícia local informou que moradores tiveram que ser evacuados por segurança.
“Temos que tomar uma atitude extrema para que alguém se lembre”, justificou o manifestante Yael Kuperman, em declaração à emissora pública Kan. “Não existe tal coisa como um Estado abandonando seus cidadãos”, completou.