A 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em Belém (PA), em novembro deste ano, deve ter como principal ponto de impasse os combustíveis fósseis. A previsão tem sido feita por especialistas que analisam a relação entre os países participantes e alertam que a falta de concordância sobre o tema poderá comprometer o consenso necessário para um acordo global. Enquanto algumas nações defendem e avançam em direção a uma transição energética, China, Estados Unidos e Índia ocupam, nesta ordem, as primeiras posições entre os maiores emissores de gases de efeito estufa (GEE) provenientes da queima de combustíveis fósseis.
Em 2022, os Estados Unidos registraram 6,28 bilhões de toneladas de GEE, ficando atrás apenas da China, com 12,67 bilhões de toneladas, segundo dados do Instituto Potsdam. Já em 2021, a Índia alcançou 2,79 bilhões de toneladas, superando sozinha as emissões conjuntas de todos os países da União Europeia, segundo dados do The Global Carbon Project.
Embora a maior parte das emissões esteja concentrada no Hemisfério Norte, são as comunidades vulneráveis que tendem a sofrer com impactos mais graves. De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a África responde por apenas 3% das emissões globais. Mesmo assim, o continente aquece em um ritmo mais acelerado que a média mundial. O relatório projeta que, até 2030, cerca de 118 milhões de africanos poderão viver em extrema pobreza e expostos a secas, inundações e ondas severas de calor.
De acordo com a gerente de Relações Institucionais do Instituto Internacional Arayara, Sara Ribeiro, a postura desses Estados pode gerar conflitos decisivos nas minúcias da redação final dos compromissos da conferência. Quando não há acordo, temas cruciais, como a definição de redução de emissões do setor fóssil, ficam suspensos – como ocorreu, por exemplo, na COP29, última edição da conferência, sediada no Azerbaijão, que terminou sem um acordo de financiamento realista.
“É como se uma pessoa estivesse doente e optássemos apenas por aliviar os sintomas, em vez de buscar a cura. Quando falamos em adaptação às mudanças climáticas, estamos tratando de medidas paliativas, que podem trazer algum alívio, mas não resolvem a exponencialidade dos eventos extremos. A mitigação, por outro lado, é o caminho para atacar a raiz dessa doença: significa eliminar o ‘vírus’ das emissões, como as provenientes de combustíveis fósseis, em vez de simplesmente aprender a conviver com ele de forma mais ‘confortável’, pois quem tem acesso a esse conforto momentâneo são justamente os mais ricos. Sem esse esforço, os governos estarão condenando os mais vulneráveis aos efeitos mais graves da crise”, aponta Sara.
Além disso, existe ainda um risco crescente de que os recursos financeiros sejam usados para financiar tecnologias caras e centralizadas – investimentos que perpetuam a dependência de megaprojetos fósseis, como as usinas a gás, em detrimento de soluções energéticas comunitárias e sustentáveis.
“Não podemos falar em transição energética justa enquanto bilhões de dólares continuam sendo direcionados à expansão de infraestruturas fósseis. Precisamos redirecionar esse fluxo para energias limpas, com as devidas consultas e cocriação comunitária, gerando impactos positivos sobre populações vulneráveis”, afirma o diretor técnico da ONG e engenheiro doutor em Urgências e Emergências Ambientais, Juliano Bueno.