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Artigo: “Marcas estão trocando parcerias por leilões de preços”

Durante boa parte da minha carreira na propaganda, aprendi que antes de qualquer contrato, planilha, processo ou entrega, existe algo essencial que sustenta todos os negócios: a relação humana. Parece óbvio, mas, aos poucos, esse pilar vem sendo corroído em silêncio, sob o pretexto da eficiência, da tecnologia ou da busca incessante por preço baixo.

Vivemos tempos em que a confiança foi colocada no banco dos réus e o menor custo assumiu o papel de juiz. O que antes era construído com parceria, troca de ideias, colaboração e respeito mútuo, hoje é substituído por relações frágeis, impessoais e oportunistas. Fornecedores são descartáveis. Parceiros viraram prestadores. As pessoas que constroem os negócios passaram a ser apenas CPFs por trás de CNPJs.

A lógica atual inverteu prioridades. Um fornecedor que entrega há anos com qualidade, consistência e ética pode ser ignorado em favor de outro mais barato, mesmo que sem histórico ou compromisso de longo prazo. O valor deu lugar ao preço. A experiência foi substituída pela barganha. E o pior: tudo isso é celebrado como evolução.

Esse modelo, no entanto, é insustentável. Quando empresas desvalorizam seus stakeholders, quando trocam relacionamentos por leilões de preços, perdem algo que não aparece nos relatórios de ROI, mas que impacta diretamente nos resultados: comprometimento. Porque ninguém entrega o melhor de si para quem trata a parceria como algo descartável.

Não se trata de nostalgia, mas de visão estratégica. Organizações que colocam suas relações no centro tomam decisões mais assertivas, constroem marcas mais sólidas e atraem talentos mais engajados. Não à toa, as empresas mais admiradas do mundo são também aquelas que mais valorizam seus ecossistemas — e não apenas seus lucros. Hoje muitas empresas falam de ESG, mas não praticam ESG.

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É claro que o mercado mudou. A tecnologia acelerou processos, ampliou concorrência e deu mais ferramentas aos gestores. Mas nenhuma plataforma substitui a escuta ativa, o aperto de mão sincero e o olho no olho. O que faz uma relação de negócio ser boa não é apenas o contrato assinado — e sim, o respeito e confiança entre as partes.

Chegamos a um ponto em que é preciso escolher: queremos continuar operando como máquinas, descartando pessoas e experiências a cada novo projeto? Ou queremos reconstruir relações mais humanas e sustentáveis? A resposta a essa pergunta vai definir o futuro das relações e dos negócios.

Se quisermos construir um mundo melhor, precisamos de pessoas melhores. E isso começa por algo simples, mas revolucionário: voltar a colocar a relação humana no centro das decisões.

*Celio Ashcar Jr. é socio da agência AKM e Presidente do Conselho da AMPRO (Associação de Marketing Promocional).

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