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O novo ponto nevrálgico de ‘Vale Tudo’: a romantização da pobreza

Taís Araujo anda lamentando a virada de trama em Vale Tudo, em que sua personagem, a cozinheira Raquel, volta a ser pobre. A atriz não esconde a decepção com os rumos tomados, conforme recente entrevista dada ao site Quem. Depois que Manuela Dias criou uma reviravolta para Raquel, Taís até se esmerou em tentar defender as possíveis lições que a narrativa traria ao público após a mocinha perder tudo.  Em vão.

O problema não é mostrar que é, sim, possível pessoas que empreendem e obtêm relativo sucesso em seus negócios se depararem com furadas e voltarem à estaca zero. O mercado está aí para comprovar que casos como esse acontecem aos montes. Basta uma marola de crise econômica ou uma decisão pessoal tomada de forma errada, que tudo pode desmoronar.

A questão da novela é justamente a forma como se deu essa derrocada do dia para a noite. A coluna GENTE ouviu um especialista da área do Direito para explicar que ninguém fecha um estabelecimento só porque um dos sócios, ainda que majoritário, queira encerrar o contrato. Pior ainda é a forma como Raquel busca se reerguer: vendendo sanduíches na praia, tal como fazia nos primeiros capítulos da novela. Agora bem sucedida, famosa por participar de um reality show e já tendo traçado uma teia de contatos que lhe garantiria um certo respaldo no meio gastronômico, é tão pouco provável que uma Raquel da vida real passasse por exatamente a mesma situação, que não foram poucas as reclamações dos telespectadores com as mais recentes cenas.

Vale Tudo erra por romantizar a pobreza. Raquel não precisava passar por tudo que já passou mais uma vez. Soa piegas, bobo e até falso ou, ainda, descolado da realidade. Seu “sofrimento” (trabalhar debaixo de sol forte nas areias cariocas) para se reerguer glamouriza a pobreza e nada acrescenta a um cenário tão diverso quanto o do desafiante empreendedorismo. É como se a personagem só fosse digna de voltar a ser rica se experimentasse mais uma vez o amargo gosto do limbo.

Mais plausível e enriquecedor seria assistirmos a uma Raquel que flerta com empréstimos em diferentes bancos, pensasse em negociar com agiotas, fizesse os cálculos dos juros altos, reclamasse da falta de incentivo governamental, a busca de novos sócios e a tarefa de lidar com ingratos impostos para levar ao telespectador a dura vida de quem leva rasteiras, mas não amolece na primeira grande queda. Não era preciso levá-la de novo às areias escaldantes das praias do Rio. Haveria outros campos igualmente quentes a se percorrer, se a sanha criativa da autora assim não estacionasse no conforto de um ar condicionado. Taís tem seus porquês para tamanha decepção.

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