No início dos anos 70, um grupo inglês de nome esquisito e com uma mistura sonora mais excêntrica ainda chegou ao topo do concorrido olimpo do sucesso do rock’n’roll da época. A banda em questão era o Jethro Tull, batizada dessa forma em homenagem ao homônimo engenheiro tido como um dos pioneiros da chamada Revolução Agrícola Britânica no início do século XVIII. A trupe começou a carreira tocando um blues convencional, mas logo incorporou ao som elementos como jazz e folk, partindo para composições longas e ambiciosas, o que colocou a turma no panteão dos maiorais do chamado rock progressivo, ao lado de nomes como Genesis, Pink Floyd e Yes.
Durante os shows, os holofotes desde sempre recaíram sobre o líder, o vocalista Ian Anderson. No início da carreira, ele havia tentado a guitarra, mas decidiu abandoná-la ao perceber que jamais conseguiria se destacar em uma área com mestres como Jeff Beck e Eric Clapton. A decisão o levou a trocar sua Fender Stratocaster por uma flauta transversal. Muito mais talhada para concertos de música clássica, ela passou a ser usada como um dos principais elementos da música do Jethro Tull. Autodidata na flauta, Anderson adaptou-a para o rock. Fazia com ela execuções furiosas, muitas vezes entremeando solos com grunhidos e gritos.
Considerado um dos melhores e mais ácidos críticos de rock de todos os tempos, o americano Lester Bangs definiu o frontman do Tull como “um dervixe de olhos esbugalhados e fraque de rabo que toca longos e violentos solos de flauta em ecos camerísticos, como se estivesse boxeando com o instrumento”. Com esse flautista ensandecido à frente, o conjunto apresentava números como Bourrée, um tema de Bach transformado em uma longa viagem progressiva. Confira aqui um clipe com a música:
O auge do sucesso do grupo se deu com os lançamentos dos discos Aqualung e Thick as a Brick, entre 1971 e 1972. Anderson seguiu comandando a banda ao longo das décadas seguintes, sempre com uma grande rotatividade de músicos ao redor dele. O Jethro Tull deixou de ser capaz de lotar grandes ginásios, como era comum no passado, mas segue tendo um público fiel, incluindo no Brasil, onde costuma marcar presença de tempos em tempos.
Nos shows, como o da atual turnê pela Europa, além de clássicos antigos, como Songs From the Woods, Anderson faz questão de tocar material novo, sendo que as faixas mais frescas são extraídas do álbum Curious Ruminant, o 24o disco de estúdio da trupe, lançado em março deste ano. A música de abertura, Puppet and the Puppet Master, tem como destaque, é claro, os solos de flauta do “dervixe de olhos esbugalhados”.