A China anunciou que vai acelerar a expansão de seu mercado de carbono para incluir setores industriais de grande porte até 2027, segundo diretrizes publicadas pelo Comitê Central do Partido Comunista e pelo Conselho de Estado.
A medida antecipa em três anos o cronograma previsto e reflete a determinação de Pequim em cumprir a promessa do presidente Xi Jinping de atingir o pico das emissões de carbono até 2030.
O plano prevê a adoção de limites absolutos de emissões — um padrão mais rígido que o atual, baseado na intensidade de carbono, que ainda permitia aumento da poluição proporcional ao crescimento econômico.
Além de ampliar a cobertura do mercado de créditos de carbono, a meta é criar, até o fim da década, “um sistema transparente, padronizado e alinhado a normas internacionais” de compensação voluntária, que possa dar mais dinamismo a um mercado considerado até agora moroso.
Atualmente, o mercado chinês cobre apenas o setor de geração elétrica, principal fonte de emissões do país. Ainda em 2025, os setores de aço, alumínio e cimento passarão a ser incluídos, embora com regras mais brandas durante os dois primeiros anos de adaptação.
Segundo a analista Camille Wee, da BloombergNEF, a inclusão de novos setores deve aumentar a demanda por créditos e sinalizar uma trajetória mais agressiva de redução de emissões.
A iniciativa também aproxima a China de padrões adotados pela União Europeia, que em 2026 começará a aplicar uma taxa de carbono a produtos importados de indústrias poluidoras. O mecanismo pressiona exportadores chineses a contabilizar com precisão suas emissões e a buscar formas de compensação para evitar tarifas adicionais.
Xi Jinping já havia prometido, em abril, ampliar os esforços para conter os gases de efeito estufa e assumir papel de liderança global na agenda climática, em contraste com o recuo dos Estados Unidos sob Donald Trump.
Situação no Brasil
O Brasil também avança na criação de um mercado regulado de carbono. O Congresso aprovou em 2023 o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), que deve entrar em operação de forma gradual a partir de 2026. O modelo será inspirado em iniciativas já consolidadas, como o mercado europeu e o próprio sistema chinês.
Enquanto o regulado ainda não começa, o país conta apenas com o mercado voluntário, usado principalmente por empresas do agronegócio, energia e aviação para vender créditos ligados a projetos de reflorestamento e conservação.
O governo Lula tem buscado acelerar a implementação do SBCE como forma de dar previsibilidade aos investidores e atrair recursos internacionais, sobretudo em um cenário de maior pressão da União Europeia e dos Estados Unidos por cadeias produtivas com menor impacto ambiental.
Especialistas apontam que, se bem estruturado, o mercado de carbono pode se tornar uma das principais fontes de financiamento da transição energética no Brasil, ao lado da expansão de renováveis como solar e eólica.