O IPCA-15 caiu 0,14% em agosto, marcando um resultado menor do que esperavam os analistas do mercado financeiro, que projetavam recuo 0,19% . O recuo do índice foi puxado pelas quedas em Habitação, Alimentação e Transportes, mas analistas avaliam que o alívio nos preços ainda não se traduz em espaço imediato para cortes de juros. Nos últimos 12 meses, o índice avançou 4,95%, acima, portanto, do teto da meta estabelecida pelo governo.
Segundo André Valério, economista sênior do Inter, o núcleo da inflação parece estagnado em 0,3%, registrando tal variação pelo terceiro mês consecutivo, em um patamar que é inconsistente com a meta de 3%. Ele ressalta a retomada na inflação de serviços, que avançou 0,5%, a despeito do recuo nas passagens aéreas. Para Valério, “esperamos que a inflação tenha performance abaixo do esperado no restante do ano, o que, juntamente com a desaceleração da atividade e da melhora nas expectativas, poderá permitir o início do ciclo de cortes pelo Copom em dezembro”.
Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, também vê pontos de atenção. “Do ponto de vista do qualitativo, os dados registraram uma leve piora na passagem de julho para agosto. Itens importantes e monitorados pelo Banco Central apresentaram uma alta acima do esperado como, por exemplo, as variações mensais de serviços subjacentes, serviços intensivos em mão de obra, média dos núcleos e índice de difusão.” Apesar disso, ele avalia que “as últimas divulgações indicam um cenário inflacionário mais benigno em relação aos primeiros meses do ano”.
Na visão de Sung, a combinação de valorização cambial, melhora dos alimentos e custos de produção menores reforça a tendência de desaceleração. Ainda assim, “persistem pontos de atenção que justificam a manutenção da Selic em 15% a.a.”, diz.