A creatina é um dos suplementos mais utilizados por quem busca ganhar força e massa muscular. Presente naturalmente no nosso organismo e em alimentos como carnes e peixes, ela tem papel importante na produção de energia durante exercícios de alta intensidade. Mas, nos últimos anos, surgiu uma dúvida que preocupa principalmente os homens: afinal, a creatina pode causar calvície?
Essa suspeita ganhou força após um único estudo publicado em 2009 por pesquisadores sul-africanos. O trabalho avaliou um pequeno grupo de jogadores de rúgbi que, após três semanas de suplementação com creatina, apresentaram aumento nos níveis de di-hidrotestosterona (DHT) – um hormônio derivado da testosterona e que está diretamente envolvido na alopecia androgenética, a famosa calvície masculina.
A partir desse estudo, muitas pessoas passaram a associar o uso de creatina ao aumento da queda de cabelo. No entanto, é preciso cautela. Até hoje, nenhuma outra pesquisa conseguiu comprovar essa ligação de forma consistente. O próprio estudo de 2009 tem limitações importantes: o número de participantes foi pequeno, a duração foi curta e os níveis de DHT, embora tenham aumentado, continuaram dentro dos limites normais.
De lá para cá, diversas revisões científicas analisaram o tema e não encontraram evidências sólidas de que a creatina cause ou acelere a calvície. Em 2021, uma revisão publicada no Journal of the International Society of Sports Nutrition reforçou que não há provas de que o suplemento altere os níveis de DHT de forma significativa em pessoas saudáveis.
É importante lembrar que a alopecia androgenética tem origem genética e hormonal, e costuma se manifestar em homens predispostos, geralmente a partir da terceira década de vida. Fatores como estresse, má alimentação, cigarro e uso de esteroides anabolizantes podem contribuir para a queda, mas a creatina, ao que tudo indica, não está nessa lista.
Ou seja, se você já tem tendência familiar à calvície, ela pode aparecer com ou sem creatina. E se você não tem essa predisposição genética, dificilmente o suplemento vai desencadear o problema.
Para quem está preocupado com a saúde dos fios, vale mais a pena olhar para os verdadeiros vilões: falta de cuidados dermatológicos, excesso de oleosidade, automedicação e abandono de tratamentos indicados por especialistas.
Em resumo: a creatina continua sendo um suplemento seguro e bem estudado, indicado para quem pratica atividades físicas com intensidade, desde que usada com orientação profissional. E, até o momento, não há motivo para culpá-la pela queda de cabelo.
*Aline Erthal é dermatologista do grupo Omens