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Velozes e furiosos: como Ford e Chevrolet reacendem uma velha rivalidade

A história do automobilismo está repleta de grandes rivalidades. Algumas nasceram nas pistas da Fórmula 1, como a briga entre o inglês James Hunt (1947-1993) e o austríaco Niki Lauda (1949-2019). Outras envolveram fabricantes, como a clássica briga entre a americana Ford e a italiana Ferrari em busca da vitória nas 24 Horas de Le Mans, tema de um ótimo filme lançado em 2019. Há, agora, uma outra animada contenda. Envolve, desta vez, duas escuderias dos Estados Unidos, Ford e Chevrolet, à procura do melhor tempo na lendária pista de Nürburgring, na Alemanha, onde os principais carros esportivos são levados para testes de velocidade e desempenho. Em resumo: uma boa volta na impiedosa pista é capaz de elevar o reconhecimento de uma fabricante quando o assunto é performance e potência.

A briga começou nas últimas semanas de 2024, quando a Ford anunciou que seu Mustang GTD, a versão mais extrema do clássico esportivo, havia se tornado o modelo americano com a melhor marca registrada em Nürburgring. Ao cravar 6 minutos, 57 segundos e 685 centésimos, o Mustang pilotado pelo alemão Dirk Müller quebrou a barreira dos 7 minutos e fez história, apesar das condições climáticas pouco favoráveis. Meses depois, Müller voltou à pista e fez um tempo ainda melhor, baixando 5 segundos, após novas calibrações e com um clima mais favorável. A alegria da Ford, porém, durou pouco.

ESPORTIVO - Corvette ZR1X, da Chevrolet: modelo híbrido tem 1 250 cavalos de potência e superou o bólido da Ford
ESPORTIVO - Corvette ZR1X, da Chevrolet: modelo híbrido tem 1 250 cavalos de potência e superou o bólido da Ford./Divulgação

No início de agosto, um Corvette ZR1 da Chevrolet, com 1 250 cavalos de potência, cravou 6 minutos, 50 segundos e 763 centésimos; seu irmão, o ZR1X, completou o circuito em 6 minutos, 49 segundos e 275 centésimos. Ao divulgar os resultados nas redes sociais, a Chevrolet tripudiou: “Fãs do Corvette, pegamos eles!”. O próprio CEO da Ford, Jim Farley, incomodado, comentou na publicação: “O jogo começou”. A resposta veio veloz. Nesta semana, a SuperVan 4.2, da Ford, uma versão bastante modificada da van Transit, com quatro motores elétricos e 2 000 cavalos de potência, fez a façanha de completar o circuito mais rápido que os dois Corvettes. A iniciativa foi uma homenagem à pilota Sabine Schmitz (1969-2021), que nos anos 1990 fez uma volta, hoje lendária, com outra van da Ford.

Rivalidades à parte entre as montadoras, os testes em pista são decisivos por várias razões. Em um ambiente controlado, os fabricantes testam os limites dos carros e determinam calibrações de desempenho, mas também de segurança. Em geral, esses ajustes são feitos em circuitos das próprias montadoras. Mas Nürburgring tem um encanto especial. A pista, conhecida como “inferno verde”, já foi cenário de acidentes pavorosos, como o sofrido por Lauda em 1976, que quase morreu e ficou com cicatrizes das queimaduras sofridas. Não basta apenas fazer um bom tempo, mas sobreviver ao perigoso trajeto é desafio adicional. Além disso, os resultados são públicos, o que torna o processo todo mais transparente.

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DRAMA - O famoso acidente do austríaco Niki Lauda em 1976: “inferno verde”
DRAMA - O famoso acidente do austríaco Niki Lauda em 1976: “inferno verde”./Reprodução

Nem todos os modelos dos duelos, é bom ressaltar, são postos à venda para o cidadão comum. Nos EUA, a Chevrolet anuncia o Corvette ZR1 por 173 000 dólares, enquanto o Mustang GTD ainda não está disponível para o consumidor final. Outros exemplares da família Mustang, contudo — remanescentes da era dos muscle cars da década de 1970 —, foram mal entre americanos, mas tiveram boas vendas no Brasil. Por aqui, foram 704 unidades comercializadas em 2024, o melhor resultado registrado no país. Neste ano, a projeção é ainda melhor. As 200 unidades da versão manual, vendidas a 600 000 reais, esgotaram em menos de uma hora. Uma nova versão, Dark Horse, acaba de chegar às lojas. Enquanto isso, a Chevrolet não vende por aqui nem o Corvette. O Camaro, da mesma montadora, seria o concorrente direto do Mustang, mas acabou saindo de linha em 2024. No mercado automotivo, as rivalidades na pista, nota-se, fazem bem para os negócios.

Publicado em VEJA de 22 de agosto de 2025, edição nº 2958

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