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Clubes argentinos são maioria nas quartas da Libertadores, mas disparidade financeira com Brasil é grande

Apesar da crise financeira e da disparidade financeira envolvendo clubes brasileiros e argentinos, a Argentina conseguiu classificar mais clubes do que o Brasil paras as quartas-de-final da Copa Libertadores deste ano, algo que não acontecia desde 2018, justamente o ano em que um time argentino levantou o caneco da competição, com o River Plate.

No total, quatro argentinos avançaram de fase: Vélez Sarsfield, Estudiantes, River Plate e Racing, e pelo lado brasileiro, Flamengo, Palmeiras e São Paulo. A LDU, do Equador, é a “instrusa” entre os outro classificados.

Pelo menos um argentino já está garantido na semifinal, já que um dos confrontos será entre Vélez Sarsfield x Racing. Os outros jogos serão entre Estudiantes x Flamengo; LDU x São Paulo e River Plate x Palmeiras.

Apesar disso, em número de títulos, o futebol brasileiro foi campeão das últimas seis edições, desde 2019, com Flamengo (2019 e 2022), Palmeiras (2020 e 2021), Fluminense (2023) e Botafogo (2024). Se somar os últimos dez anos, foram sete títulos para o Brasil, incluindo o Grêmio (2017), e apenas dois para os argentinos, com o River Plate tendo faturado também em 2015.

Futebol argentino vive crise financeira e recebeu recado até do presidente do país, Javier Milei

Em julho deste ano, o presidente da Argentina, Javier Milei, usou suas redes sociais para elogiar o futebol brasleiro e falar da transformação dos clubes argentinos em SAFs (SADs, na Argentina), após a eliminação de Boca Juniors e River Plate ainda na primeira fase da Copa do Mundo de Clubes da FIFA, disputada nos Estados Unidos. As críticas também foram um ataque ao presidente da Federação Argentina de Futebol, Claudio Tapia, que é contra esse tipo de gestão no país.

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“Nem River, nem Boca. Sem argentinos no Mundial de Clubes. O Brasil foi com quatro times, os quatro passaram. Até quando teremos que apontar o fracasso do modelo Chiqui Tapia? Um campeonato frágil, com 30 times, sem competitividade, sem SAD, sem incentivos. Não está a altura do tremendo público argentino que lota estádios ao redor do mundo. Insisto, Chiqui Tapia e seu minúsculo círculo fazem mal ao futebol argentino”.

Apesar de a Argentina ter conquistado a última Copa do Mundo, em 2022, com Lionel Messi como protagonista, nos últimos anos, o distanciamento entre clubes brasileiros e argentinos tem provocado um desequilíbrio técnico e econômico, sendo refletido diretamente nos desempenhos e conquistas nas principais competições do continente.

Isso se acentuou, principalmente, com o crescimento em gestão de times como Palmeiras e Flamengo, que ganharam alternadamente a Copa Libertadores, entre 2019 e 2022, e ao surgimento de agremiações que se tornaram SAF no país, casos de Atlético-MG e Botafogo, que coincidentemente fizeram a final da competição em 2024.

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A disparidade entre brasileiros e argentinos, de acordo com especialistas, tem a ver, claro, com gestão, mas também com política. Desde que se tornou candidato à presidência da Argentina, em dezembro de 2023, que Javier Milei vem deixando claro seu desejo de constituir a entrada das SADs (Sociedade Anônima Desportiva) no país, equivalente às SAFs (Sociedade Anônima do Futebol) no Brasil.

No final do último ano, Milei revogou um decreto que promovia benefícios fiscais para os clubes de futebol do país, numa demonstração que vai de encontro ao desejo de ver os clubes se tornarem empresas. Um pouco antes, em março, tão logo assumiu a cadeira, o mandatário discursou na feira agroindustrial Expoagro, num dos principais eventos da época em Buenos Aires, e revelou que o Grupo City tinha interesse em comprar grandes clubes da Argentina, e emendou: “É um investimento monumental. Ou preferem continuar nessa miséria, onde cada vez mais temos um futebol de pior qualidade?”.

Em julho de 2024, o Governo da Argentina havia liberado o capital privado no futebol argentino a partir de novembro deste ano, autorizando a transformação em Sociedades Desportivas (SADs). Mas o principal entrave para essa mudança está na briga com Claudio Tapia, eterno presidente da Associação do Futebol Argentino -e que vem conseguindo mobilizar os clubes mais tradicionais do país, como o Boca Juniores, fazendo com que essas medidas cautelares acabem parando na Justiça e barrando essa liberação.

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A indiferença de virar SAF por parte do Boca Juniors tem a ver também com ligações políticas. Em meados de 2024, o Governo da Argentina havia liberado o capital privado no futebol argentino a partir de novembro deste ano, autorizando a transformação em Sociedades Desportivas (SADs). Mas o principal entrave para essa mudança está na briga com Claudio Tapia, eterno presidente da Associação do Futebol Argentino -e que vem conseguindo mobilizar os clubes mais tradicionais do país, como o Boca Juniors, fazendo com que essas medidas cautelares acabem parando na Justiça e barrando essa liberação.

“O Brasil é sabidamente o país mais rico da América do Sul e o futebol brasileiro é o resultado dessa condição. E a diferença com nossos ‘hermanos’ será ainda mais acentuada com o advento da Liga, mas para isso é necessária uma conversão de interesses dos dois movimentos hoje existentes em prol de um mesmo futebol nacional”, analisa Cristiano Caús, sócio fundador responsável pela área de Direito Desportivo na CCLA Advogados.

Para o educador financeiro e diretor da Multimarcas Consórcios, Fernando Lamounier, o problema do Boca Juniors e de outros clubes argentinos em relação à discrepância de valores de receitas pode ser explicada, principalmente, pela diferença no modelo de gestão, estrutura de governança e tamanho do mercado esportivo em cada país.

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“Outro fator importante é a distinção na estrutura das competições e premiações. Enquanto no Brasil a organização e o aporte financeiro de torneios como a Copa do Brasil e o Brasileirão criam um ambiente competitivo e atraente para investidores, na Argentina os torneios ainda enfrentam problemas de organização e baixos níveis de monetização. Isso reflete na capacidade de distribuir prêmios mais robustos e de estimular o crescimento econômico dos clubes”, aponta.

Considerado uma das maiores potências da América do Sul, o River Plate projetou um caminho alternativo somente no começo deste mês de outubro ao entrar na Bolsa de Valores do país com a criação do Club River Plate Financial Trust. Na prática, qualquer interessado, seja pessoa física ou empresa, podem investir no clube com 12 mil pesos.

Com seu estádio recém-reformado e recebendo mais de 80 mil pessoas em dias de grandes jogos, potencializando suas receitas e negócios, a ideia do River Plate ao entrar na Bolsa de Valores é de captar mais de 15 milhões de dólares, e usar esse dinheiro exclusivamente para melhorias no departamento de futebol, incluindo as categorias de base.

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