As sanções da Lei Magnitsky, legislação americana que permite punir autoridades estrangeiras acusadas de corrupção ou violações de direitos humanos, expõe fragilidades do sistema financeiro nacional. O ministro Alexandre de Moraes, do STF, teve cartões de crédito de bandeiras americanas bloqueados, restando a ele uma única alternativa no país: a Elo, única bandeira nacional de cartões em operação.
Criada em 2011 por Banco do Brasil, Bradesco e Caixa, a Elo nasceu justamente como um projeto de soberania no setor de meios de pagamento, em um mercado historicamente dominado por Visa e Mastercard. Hoje, a bandeira reúne 41 milhões de cartões ativos, aceitos em 11 milhões de estabelecimentos e emitidos por 37 instituições, que incluem desde grandes bancos até varejistas e fintechs.
A relevância da Elo ganha ainda mais peso após a saída da Hipercard, descontinuada pela Mastercard em julho de 2025. O movimento deixou o Brasil com apenas uma bandeira local.
Analistas destacam que a aplicação da Lei Magnitsky sobre figuras de destaque, como Moraes, explicita a vulnerabilidade de países sem infraestrutura própria robusta.
O desafio da Elo, no entanto, é transformar essa condição em vantagem competitiva. A aceitação internacional da marca ainda depende de parcerias com bandeiras estrangeiras, o que reduz a blindagem em operações fora do país. No mercado doméstico, enfrenta a concorrência não apenas das gigantes globais, mas também do Pix, que já se consolidou como o meio de pagamento mais usado pelos brasileiros.
Há, no entanto, dúvidas sobre a capacidade da Elo de atuar como peça estratégica em cenários de sanção. Logo no terceiro parágrafo das “Disposições Gerais” de seu regulamento, a empresa estabelece que os participantes do sistema devem observar “sanções (como aquelas administradas pelo Departamento de Gabinete do Tesouro dos EUA e da ONU Organização das Nações Unidas”. Ao reconhecer a observância de sanções internacionais em suas regras internas, a companhia cria uma zona cinzenta: na prática, a decisão sobre atender ou não clientes sancionados pode acabar submetida à interpretação dos controladores – Banco do Brasil, Bradesco e Caixa.