A polícia indiciou Jair Bolsonaro e o filho-deputado Eduardo por suspeita de obstrução de justiça, e passou a investigar Silas Malafaia, psicólogo e televangelista.
O relatório apresentado ao Supremo Tribunal Federal, onde Bolsonaro é julgado por crimes contra a Constituição, entre eles tentativa de golpe de estado, reproduz uma parte das mensagens trocadas durante os últimos dois meses.
Pai, filho e pastor esbanjam ofensas nas análises de caráter que fazem deles mesmos, e vazam ressentimentos em excesso intercalados por palavrões.
A transcrição dos diálogos mais suaves revela o filho-deputado irado com o pai por ter sido chamado de “imaturo” depois de criticar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, cuja lealdade, aparentemente, virou tema de discussão no café, almoço e jantar do clã Bolsonaro.
“Apesar de ter feito 40 anos de idade agora, né… ele não é tão maduro assim, vamos assim dizer, talhado para a política”, disse o pai às repórteres Simone Kafruni e Mariana Haubert, do portal Poder 360, ao comentar querelas do filho sobre a fidelidade do governador paulista.
“VC ME JOGA PRA BAIXO” — queixou-se o filho, usando maiúsculas, entre quatro palavrões numa mensagem de apenas três linhas raivosas dirigidas ao pai. “Esse seu filho Eduardo é um babaca”, concluiu Malafaia ao escrever ao pai prevendo impacto negativo do tarifaço de Donald Trump para Bolsonaro. Babaca, informam os dicionários, é sinônimo de idiota, simplório, burro, insignificante, ingênuo e trouxa…
Ele advertia Bolsonaro sobre os riscos do engajamento do filho em ação pública de lobby em Washington para sanções ao Brasil. Daria ao adversário Lula e à esquerda, argumentou, “o discurso nacionalista, ao mesmo tempo te ferrando”.
O pastor-psicólogo tinha razão. Pelo menos em relação à repercussão ruim. Quase metade (48%) dos eleitores acha que Lula e o PT estão atuando de forma correta na crise criada por Trump, relata pesquisa Quaest divulgada ontem.
Ampla maioria (69%) não vê nenhum interesse público na atuação do filho-deputado ao defender ataques de governo estrangeiro à economia nacional.
Dúvidas sobre o eventual altruísmo do pai foram dissipadas pelo cardápio de mensagens do próprio Bolsonaro sobre anistia — ele reivindica a posição de beneficiário principal, relegando a segundo plano um possível perdão aos condenados por atentado no 8 de janeiro.
As conversas reproduzidas no relatório da polícia ao STF podem ser úteis a roteiristas de documentários ou de ficção. Elas mostram a tensa disputa pelo espólio político de um ex-presidente da República que, talvez, seja condenado à prisão e fique fora do jogo eleitoral pelo resto da vida.