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A doença venosa crônica e a urgência de novos dados

O Agosto Azul Vermelho foi criado para conscientizar a população sobre a importância de cuidar de veias e artérias, prevenindo doenças que, embora silenciosas no início, podem comprometer a qualidade de vida. Entre elas, está a doença venosa crônica (DVC), condição que afeta as veias dos membros inferiores e se manifesta por sintomas como inchaço, dor, sensação de peso nas pernas, vasinhos e varizes. É uma doença progressiva que, sem tratamento, pode levar a estágios graves, incluindo úlceras venosas, que são feridas dolorosas e de difícil cicatrização.

Muitas vezes negligenciada e confundida com um simples problema estético, estima-se que até 80% da população mundial apresente algum grau de doença venosa crônica, que incluem os vasinhos e veias aparentes do chamado estágio clínico C1. Cerca de 30%, o equivalente a 2,47 bilhões de pessoas, já apresentam varizes, que são veias superficiais dilatadas e tortuosas que aparecem como protuberâncias na pele, especialmente nas pernas, já com sintomas de dor, inchaço, sensação de peso e cansaço. Destas, aproximadamente 1% (82,4 milhões) chegará ao estágio mais avançado. No Brasil, isso representa cerca de 63,8 milhões de pessoas com algum grau da doença e mais de 2 milhões com úlceras venosas.

Em 2024, as doenças do aparelho circulatório resultaram em 185.586 concessões do Auxílio por Incapacidade Temporária de Natureza Previdenciária. Entre todas elas, as varizes dos membros inferiores lideraram o ranking, com 27.382 concessões no ano, superando o acidente vascular cerebral e o infarto agudo do miocárdio. Nos últimos cinco anos (2020 a 2024), essa condição foi responsável por mais de 95 mil concessões, o que representa cerca de 14% de todas as autorizações vinculadas às doenças do aparelho circulatório no período, evidenciando o peso para a previdência social e para a força de trabalho do país.

Apesar dessa relevância, no Brasil seguimos trabalhando com dados epidemiológicos desatualizados há mais de 20 anos o que dificulta a formulação de políticas públicas e a incorporação de novas tecnologias de tratamento. Foi essa lacuna que motivou a criação do primeiro registro multicêntrico nacional, voltado exclusivamente para a DVC, atualmente em andamento, com previsão de publicação para o primeiro semestre de 2026.

O Registro Brasileiro de Doença Venosa Crônica (BRAVO), que conta com o apoio da farmacêutica Servier do Brasil, reúne dez centros de pesquisa distribuídos nas cinco regiões do país, incluindo hospitais públicos e privados de referência, como o Hospital das Clínicas de São Paulo. A amostra representativa da população brasileira em termos de idade, sexo e distribuição geográfica contempla mais de 650 pacientes em atendimento para DVC.

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O objetivo é mapear informações detalhadas sobre o estágio da doença venosa nas consultas médicas, as diferenças de acesso e de condutas terapêuticas entre o sistema público e a saúde suplementar, os tratamentos mais utilizados para cada perfil de paciente, os grupos mais vulneráveis em termos de gravidade, idade, gênero e fatores de risco, além de identificar os principais gargalos no diagnóstico precoce. Com os dados, será possível propor linhas de cuidado mais eficientes e custo-efetivas, embasando tanto a prática clínica, quanto a formulação de políticas públicas e a discussão sobre a incorporação de novas terapias no Sistema Único de Saúde (SUS).

Enquanto aguardamos os dados, é importante reforçar que a DVC pode ser controlada e as complicações, prevenidas. Medidas simples, como manter um peso saudável, praticar atividade física regular (especialmente exercícios que fortaleçam a musculatura das pernas) e evitar longos períodos em pé ou sentado, ajudam a proteger a saúde vascular. Ao menor sinal de inchaço, dor ou veias dilatadas nas pernas, procure um angiologista ou cirurgião vascular. Quanto mais cedo o diagnóstico da doença venosa crônica, maiores as chances de tratamento eficaz.

O Agosto Azul Vermelho é mais do que uma campanha simbólica. É um chamado à ação. Precisamos conscientizar a população, apoiar políticas públicas e garantir que cada brasileiro tenha acesso a diagnóstico precoce e tratamento adequado. A doença venosa crônica não é apenas um problema estético. É uma condição que, se negligenciada, pode roubar autonomia, limitar movimentos e comprometer anos de vida ativa.

*Rodrigo Kikuchi é cirurgião Vascular, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular e preceptor de Cirurgia Vascular da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo

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