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Nos EUA, supremacistas criam complexo habitacional que bane negros, judeus e gays

Uma comunidade rural supremacista tem sido construída nas Montanhas Ozark, no Arkansas, revelou uma reportagem do jornal americano The New York Times, 20. Para ser aceito ao grupo, os candidatos passam por uma entrevista presencial, verificação de antecedentes criminais e são questionados sobre seus antepassados. Tudo para comprovar que são, de fato, brancos. Pessoas negras, judeus e qualquer membro da comunidade LGBTQIAPN+ são proibidos. Trata-se de um complexo exclusivo para brancos e heterossexuais.

A construção do local, chamado Return to the Land, acontece enquanto o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reverte uma série de políticas públicas DEI (voltadas para diversidade, equidade e inclusão). Ao retornar à Casa Branca, em 20 de janeiro, o republicano também ampliou o cerco contra imigração e concedeu perdão a supremacistas.

O momento é considerado oportuno por um dos fundadores da comunidade, Eric Orwoll, um trompista que publica vídeos conspiratórios sobre miscigenação e inteligência branca. Em entrevista ao NYT, ele afirmou que prefere “que o precedente seja estabelecido e a discussão seja travada enquanto houver um clima cultural e jurídico relativamente favorável”, acrescentando: “Portanto, se vamos travar esta batalha — e é uma batalha que será travada em algum momento — é melhor que seja agora.”

“Eles veem um amigo na Casa Branca, no mais alto nível”, explicou Peter Simi, professor de sociologia na Universidade Chapman, na Califórnia, especialista em violência extremista, ao The New York Times. “Eles se veem literalmente em vários cargos na administração, incluindo o Departamento de Justiça e o Departamento de Defesa.”

Teste às leis antidiscriminação

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A Return to the Land desafia leis de moradia antidiscriminação em vigor há 57 anos. Orwoll e Peter Csere, outro criador, acreditam que a comunidade de 647 mil m² atende a requisitos para uma isenção legal concedida a associações privadas e grupos religiosos que oferecem moradia aos seus membros. Embora o grupo conduza verificações criminais, Csere está no centro de acusações de desvio de milhares de dólares de uma vila vegana no Equador, onde também teria esfaqueado um mineiro.

John Relman, advogado de direitos civis especializado em violações de moradia justa, frisou que o grupo poderia ser processado por diversas seções da Lei de Direitos Civis dos EUA de 1866, além da Lei de Moradia Justa de 1968. Relman definiu o complexo habitacional como “um caso concreto de discriminação intencional”.

O coro foi endossado pela diretora do programa de justiça racial da União Americana pelas Liberdades Civis, ReNika Moore, que também salientou que “as leis federais e estaduais, incluindo a Lei de Moradia Justa, proíbem a discriminação habitacional com base em raça, ponto final” e que “reformular a segregação residencial como um ‘clube privado’ ainda é uma violação clássica da lei federal”.

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Após matérias de diferentes veículos americanos, o procurador-geral do Arkansas, Tim Griffin, abriu uma investigação sobre potenciais violações legais pela Return to the Land. Estima-se que a comunidade tenha cerca de 40 moradores, incluindo uma dúzia de crianças, todas educadas em casa. Trata-se de um complexo e uma associação privada, com “centenas” de associados que uma taxa única de adesão de US$ 25 (R$ 137,50), de acordo com Orwoll.

De Hitler à Grande Substituição

A sociedade é administrada por Orwoll, Csere e outros três homens não identificados pelo NYT. Os membros da associação podem comprar ações, avaliadas em cerca de US$ 6.600 (mais de R$ 36 mil), recebendo em troca aproximadamente 12 mil m² de terra. Na visita do NYT ao local, Orwoll mostrou uma cabana de dois andares com uma bandeira dos EUA e um centro comunitário em construção, no qual serão sediados eventos e jantares. Mas ele, segundo o jornal americano, parecia mais desconfiado e inquieto.

No seu escritório, localizado em um galpão com ar-condicionado e internet de fibra óptica, Orwoll virou um exemplar livro “Mein Kampf”, escrito por Adolf Hitler, para esconder a lombada antes do fotógrafo do The New York Times tirar fotos. Formado pela renomada escola de música Eastman School of Music em Rochester, Nova York, ele se considera um entusiasta da filosofia grega, apesar de nunca ter estudado o assunto formalmente.

O trompista passou a publicar vídeos no YouTube sobre filosofia e consciência coletiva, passando também pela teoria conspiratória da Grande Substituição, que prevê que populações não brancas substituirão pessoas brancas por meio de taxas de natalidade e migração em massa. Ele também defendeu alegações racistas de que a inteligência está associada à genética, o que há décadas é rejeitado por cientistas. Orwoll, inclusive, disse que faz parte do movimento “red pill”, com teor misógino e que defende o retorno da masculinidade dominante.

Ele é pai de quatro filhos, de 2 a 8 anos, com Caitlin Smith, sua ex-mulher. O casal se conheceu na escola de música — Caitlin cresceu no interior de Nova York e também toca trompa. No passado, eles gravavam vídeos de sexo ao vivo por dinheiro no site pornô Chaturbate. O perfil da dupla, que ainda está visível, lista preferência por homens, mulheres, pessoas trans e casais. Orwoll afirmou que as gravações eram de uma época em que era “um niilista moral”, justificando: “Eu ainda não era cristão”.

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