Líderes europeus mantêm conversas nesta terça-feira, 19, um dia após a cúpula com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o futuro da guerra na Ucrânia. A “coligação dos dispostos”, como é chamado o grupo de aliados dos ucranianos, participarão de um encontro virtual — copresidido pelo primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, e pelo presidente da França, Emmanuel Macron — para depois migraram para uma videoconferência organizada pelo presidente do Conselho Europeu, António Costa.
Na véspera, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, Trump e líderes da Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Finlândia, União Europeia e Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) se reuniram na Casa Branca. A presença europeia teve como objetivo elevar a pressão sobre o líder americano, que se aproximou do presidente da Rússia, Vladimir Putin, desde o retorno à Casa Branca, em 20 de janeiro, embora a relação entre os dois tenha sido marcada por vai-e-vens, de elogios a xingamentos.
A cúpula também ocorreu sob as sombras de um encontro amigável entre Trump e Putin na última sexta-feira, 15, no Alasca. A bilateral não foi marcada por avanços significativos nas negociações de paz, mas representou uma vitória para o russo, que ganhou tempo com Trump. Antes da reunião, Putin vinha sendo reiteradamente ameaçado pelo republicano, que prometia impor duras sanções a Moscou caso o chefe do Kremlin não se comprometesse com os esforços de colocar um ponto final no conflito, iniciado em fevereiro de 2022.
Em meio ao estreitamento dos laços entre Trump e Putin, os líderes europeus e Zelensky pressionam por garantias de segurança apoiadas pelos EUA para a Ucrânia. Sem elas, as tropas russas poderiam invadir o território ucraniano no futuro se bem entendessem. Até o momento, contudo, o presidente americano não colocou garantias no papel, pondo em dúvida o futuro de Kiev. Em paralelo, Zelensky também se recusa a abrir mão de territórios — uma demanda de Putin, que quer 20% da Ucrânia — e a desmilitarizar o país, insistindo que “um forte exército ucraniano” é uma exigência imutável.
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Futuro incerto
Nem Zelensky, nem Putin parecem dispostos a flexibilizar as reinvindicações. Além dos territórios, que incluiriam Luhansk e Donetsk, o presidente russo insta que a Ucrânia abandone a pretensão de aderir à Otan, principal aliança militar ocidental. Apesar do abismo entre as demandas e a capacidade de ceder, Trump sugeriu um encontro entre Putin e Zelensky. Mas a incerteza ainda faz parte do script do republicano: nesta terça-feira, ele disse à emissora americana Fox News que é possível que o russo “não queira um acordo”, mas prometeu “consequências graves” se for o caso.
“Eu não acho que será um problema, para ser honesto, eu acho que Putin está cansado (da guerra). Eu acho que todos estão cansados, mas você nunca sabe. Vamos descobrir sobre o presidente Putin nas próximas duas semanas. É possível que ele não queira um acordo”, afirmou.
Em meio aos preparativos, o presidente da França, Emmanuel Macron, sugeriu Genebra como sede do encontro entre Putin e Zelensky, ainda sem data definida. A Hungria também está sendo considerada, de acordo com a agência de notícias Reuters. Enquanto isso, a Europa examina possíveis caminhos para que a soberania ucraniana seja garantida. Entre as sugestões, está o envio de uma “força de segurança” à Ucrânia para evitar novas agressões russas após um acordo de paz. O plano precisaria de apoio expresso dos EUA para dar certo, uma vez que Moscou mantém “oposição categórica a qualquer cenário que envolva o envio de um contingente da Otan para a Ucrânia”.
Kiev também poderia ser agraciada com uma espécie de proteção comparável ao Artigo 5, que estabelece que um ataque a um membro da Otan representa uma agressão a todos, permitindo uma defesa coletiva. Em declaração após o bate-papo na Casa Branca, a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, disse que os aliados ocidentais se comprometeriam com “uma cláusula de segurança coletiva que permitiria à Ucrânia se beneficiar do apoio de todos os seus parceiros, incluindo os Estados Unidos, prontos para agir caso seja atacada novamente”, embora o país ainda não faça parte da aliança militar.